Coluna do Celsinho

Senha

Celso de Almeida Jr.

No banco, num banco, esperava a minha vez.
Gosto do sistema de senhas disponível na maioria das agências.
Sentado, quietinho, basta aguardar com paciência.
Distraído, demorei a retribuir o cumprimento do Renato Nunes.
Desculpei-me, dizendo a verdade: eu viajava em pensamento.
Ele, generoso, amenizou a situação citando uma experiência.
Disse-me que, em viagens por longas estradas, percebia o quanto demorava a chegar.
Notou, então, que ao voar em pensamento, sem comprometer a segurança, passou a ter a impressão de que o tempo ia mais rápido, chegando logo.
Despedimo-nos e continuei viajando, esperando.
A rápida conversa com o amigo me fez lembrar o paradoxo dos gêmeos.
Aquele efeito da física, ilustrado por Einstein, onde um dos gêmeos é colocado em uma espaçonave que viajará numa velocidade muito próxima a da luz, enquanto o seu irmão ficará na Terra.
Passados alguns anos terrestres, a nave retorna.
Como objetos acelerados a velocidades próximas da luz têm uma dilatação temporal menor que os objetos parados, o gêmeo que viajou estaria mais novo do que aquele que ficou na Terra, pois sofreu menor ação do tempo.
Com estas coisas na cabeça, simplificando, forçando a barra, imaginei que ao viajar em pensamento eu beire a velocidade da luz.
Idealizei, assim, o pensamento que voa e o pensamento que fica.
Nestas circunstâncias, ao voltar para o corpo - a minha Terra! - o pensamento viajante estaria mais jovem.
Mais otimista.
Mais esperançoso.
Mais dinâmico.
Mais arejado.
Com mais energia para convencer o pensamento velho de que sempre é tempo de mudar, acreditar, inovar.
No auge deste delírio, o painel chamou minha senha.
Encarei o caixa, paguei contas, contei moedas.
Preciso viajar mais...

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