Pitacos do Zé


Era uma vez...

José Ronaldo dos Santos
Aproveitando uma folga, estou caminhando com a mana Ana. Nesses serões, quando a Terra se refresca, já não é tão normal encontrar, como em outros tempos, as pessoas proseando nos banquinhos, pelos portões.  Mas... exercitando e fazendo caminhadas se vê muita gente! Que bom que nós, em nossa Ubatuba, temos uma academia a céu aberto! De repente...

De repente, em duas bicicletas, quatro adolescentes passam farreando. Um deles, com potente voz, canta uma música que tem uma letra horrível e reveladora, pelo baixo nível do palavreado,  de quão desrespeitoso  e atrasado culturalmente  é o rapaz. “Miserável cultural!”. Na hora comentei: “É um dos novos colonizadores que só colabora para a degradação da nossa cidade”. De repente...

De repente reparei naquele rapaz e me veio à mente outro momento, parecendo história de “Era uma vez...”.

No ano de 1976,  eu trabalhava em uma obra na Praia da Enseada, onde o construtor, Idílio Barreto, contratou quatro operários recém-chegados de Minas Gerais. Eram “peões de obra” que “queimavam panela” para alavancarem uma nova fase de vida. Dentre esses, eu admirava muito o “Miro” porque era bem educado, trabalhava caprichosamente e não desperdiçava o seu suado salário. Mais tarde, quase um ano depois, ele trouxe o restante da família (esposa e três filhos). Foram morar num dos nossos sertões.

Sem nunca ter a intenção, os nossos caminhos foram se cruzando. Desse modo, acompanhei nascimentos, casamentos dos familiares, locais de moradia etc. Fico contente porque o meu amigo – muito batalhador! – se realizou (tem uma boa casa, carro e parece estar muito saudável). Agora, contrariando a lei da evolução , onde subentende que os nossos filhos têm que ser melhores do que nós,  vem a decepção: o miserável rapaz, que até transparecia estar sob efeito de algum alucinógeno, é neto do “Miro”. 

Que regressão! O que diria o seu avô, caso estivesse ao meu lado, caminhando aos cuidados de uma Lua que despontava e fazia brilhar toda a Baía de Ubatuba, tendo que escutar tais barbaridades?

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