Política & Conexos

Um ponto fora da curva

Sidney Borges
Mensalões existem aos milhares nesta terra descoberta por Cabral. O fato é corriqueiro, ou pelo menos todos desconfiam que seja, mas ninguém consegue provar. Compra de votos para aprovar projetos é coisa velha, mais antiga do que Silvio Santos vendendo capa de título de eleitor nas barcas de Niteroi.

A coisa pega por que aquele que recebe o dinheiro não pode denunciar quem o paga. Os dois cometem crime e como ninguém quer ser preso, ninguém abre o bico. O gentil acordo de cavalheiros de reputação ilibada e conduta irrepreensível funciona na base da máfia, todos calados, todos vivos, quem abre o bico morre. Claro que lancei mão de uma figura de linguagem, no caso dos mensalões a morte é política, mas em certos casos pode ser física. Não imagino como alguém acostumado ao poder, a ser obedecido e bajulado poderá conviver com a lei do cão dos presídios.

O mensalão que atualmente está na berlinda e que retirou da vida pública figurões da República começou a ganhar corpo no dia em que um funcionário dos correios foi flagrado pegando propina. O vídeo vazou, aparecendo no Jornal Nacional e no Fantástico. Ficou mais ou menos explícito que existia uma disputa política entre José Dirceu e Roberto Jefferson e Dirceu se dispôs a ir até o fim para vencer a pendenga.

Só não imaginou que seu adversário fosse um ponto fora da curva. Roberto Jefferson acuado e abandonado pelo governo que tanto apoiou - por preço razoável, diga-se a verdade - chutou o pau da barraca. Morreremos todos, vou para o espaço, mas levo comigo quem me cerca.

Assim foi dito, assim foi feito. Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da Folha de São Paulo, em junho de 2005, Jefferson abriu a torneira de maldades-verdades contra Dirceu e a cúpula petista, cuidando de preservar Lula.

O restante da história todo mundo conhece, os denunciados por Jefferson e ele próprio foram condenados pela Justiça e vão cumprir penas, alguns longas penas de prisão.

O julgamento do mensalão é um marco na história "destpaiz". Mas aconteceu por causa de um ponto fora da curva. Nada teria vindo à tona se em vez de Jefferson, Dirceu tivesse escolhido outra vítima para exercer seus poderes imperiais.

Como ele iria saber?

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