Opinião

A aposta de Tombini

O Estado de São Paulo

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reiterou sua aposta na recuperação e no fortalecimento da economia brasileira, embora o ambiente externo continue desfavorável e só deva melhorar muito lentamente. Nem a China, maior emergente, segunda maior potência econômica do mundo e maior importadora de produtos brasileiros, passa ilesa pela crise global. Também esse dado entra nas contas do presidente do BC, mas ele prevê para a economia chinesa um pouso suave. Para o mundo rico as previsões continuam sombrias. Na União Europeia, as "economias centrais começam a sentir com mais intensidade os efeitos da crise", mas o risco de um desastre maior é atenuado por "medidas recentes". Nos Estados Unidos, o crescimento lento e o desemprego ainda alto "mantêm aberta a possibilidade de novos estímulos monetários" - referência ao fenômeno descrito pela presidente Dilma Rousseff, em linguagem menos diplomática, como "tsunami monetário".

Na descrição de Tombini, apresentada em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, nessa quarta-feira, a reanimação da economia brasileira é atribuível estritamente, ou quase, a medidas internas, tomadas pelo BC e pelo Executivo federal. Passada a fase mais difícil, o crescimento será sustentado, neste semestre e no próximo ano, pelo vigor do mercado interno. Sem apresentar projeções próprias, ele mencionou estimativas coletadas no mercado por meio da pesquisa Focus da semana passada: ritmo equivalente a 4,4% ao ano, durante a segunda metade de 2012, e 4% ao longo de 2013.

Pelo menos em relação à demanda interna a avaliação positiva parece muito bem fundamentada. De fato, o nível geral de ocupação permanece elevado e o emprego industrial, geralmente o de melhor padrão, cresceu 0,2% em julho, depois de quatro meses de redução, segundo informou também na quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A folha real de salários encolheu 1%, mas permaneceu 2,5% maior que a de um ano antes.

Emprego e renda ainda garantem boas condições de consumo, reforçadas pelo crédito em expansão, pela redução dos juros e pela inadimplência em queda. Do lado da oferta o cenário traçado pelo presidente do BC ainda parece um tanto otimista. Além das medidas de estímulo temporário, ele mencionou as ações tendentes a reforçar a eficiência e a competitividade da indústria - um dado novo na política econômica. Mas é cedo para saber se os produtores brasileiros, mesmo com esses novos incentivos, conseguirão responder ao aumento da demanda interna e retomar os espaços ocupados, nos últimos anos, pelos concorrentes estrangeiros.

Curiosamente, o presidente do BC pouco se ocupou do comércio exterior e do balanço de pagamentos, apesar da inegável piora das contas externas em 2012 (resultado de problemas de competitividade acumulados em vários anos). Ele nem mesmo explorou os prováveis efeitos cambiais de uma nova onda de emissão de dólares, se a autoridade monetária americana retomar a política expansionista.

Tombini reafirmou também a expectativa de inflação no rumo da meta, isto é, da taxa anual de 4,5%. A trajetória será irregular, segundo ele, por causa das pressões externas sobre os preços agrícolas, mas esse problema, em sua avaliação, deve ser transitório. Se essas previsões se confirmarem - este é o evidente recado implícito -, será desnecessário elevar de novo os juros básicos, em queda há um ano.

O cenário de Tombini parece realista em vários aspectos. Mas a política econômica apenas começou a tocar nas questões de competitividade. Quanto a esse ponto, ele pode ter sido perigosamente otimista. Além disso, praticamente ignorou os problemas das contas externas.

Havia só dois senadores no auditório, quando chegou o presidente do BC. O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral, tentou justificar as ausências e acrescentou: "O importante é que a imprensa está aqui e que o mercado vai acompanhar". Nesse caso, para que ir ao Senado, se diretores do BC podem falar à imprensa em tantos outros lugares?

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