Pitacos do Zé Ronaldo


As férias de Júnior

José Ronaldo dos Santos
É legal encontrar amizades distantes no tempo e no espaço. Quase sempre é muito bom!

O Júnior, filho do Peterson, dono de uma mansão no morro da Santa Rita, é meu conhecido desde a década de 1970, no tempo em que o nosso país era governado pelo general Emílio Garrastazu Médici. Nossos pais, de vez em quando, conversavam em torno da política da época. A gente, escutando prosas em retalhos, começava a entender um pouco mais do que era permitido, sem deixar de aproveitar a vida de criança.

Voltando ao assunto, o Júnior aproveitava as férias brincando conosco, andando pelas costeiras e mergulhando em busca de lagostas e preguais. Era em sua bicicleta que nós aproveitávamos para cansar de pedalar. Afinal, pouquíssimos caiçarinhas eram privilegiados em ter uma monareta, uma bicicleta pequena.

Surpresa boa foi encontrá-lo, dias desses, depois de muito tempo no estacionamento do supermercado, no centro da cidade. Estando os dois sem pressa alguma, fomos andar-prosear na beira da praia do Cruzeiro. Chegamos até no espaço da festa de São Pedro; demoramos apreciando a canoa Maria Comprida, onde lhe contei do meu primeiro contato com essa embarcação, devidamente construída no final da década de 1960 somente para as competições. Por ser o tio Salvador Mesquita um dos bons remadores da época, a embarcação recebeu um tratamento final no quintal do nhonhô Almiro, na praia da Fortaleza. Que beleza ficou após o tratamento recente aplicado pelo Renato, neto do velho Peralta da praia das Sete Fontes!

Enfim, recordamos um monte de coisas que fizeram parte de nossas vidas há quarenta anos. Ele, assim como eu, lamentou das “mudanças perniciosas à Ubatuba”. Em referência a um panorama geral, próprio de alguém que ainda busca esse município para fugir de um cotidiano cruel ditado pela industrialização, o Júnior, nestas palavras, definiu um quadro deprimente:

“Pelo que eu vejo hoje, a força da juventude ubatubense está concentrada nos surfistas amadores e nos drogados esqueléticos. Estou errado, Zé?”

Pelo visto, o frequentador desta cidade há tanto tempo não está tão fora de rota. Também, não é relativamente igual ao panorama geral da sociedade brasileira? Porém, a nossa população é composta, sobretudo de trabalhadores. Outra coisa: será que ele já refletiu que, ao construir no morro da Santa Rita, seu pai e outros podem ter contribuído para o fim da mina d’água do Juca Brás, onde tantas vezes, entre nossas andanças de crianças, matamos a sede? E para onde segue os esgotos que eles produzem logo acima da costeira? Isto também é degradação. Faz parte de um conjunto que nos deprime imensamente.

Vamos aproveitar das férias para refletir mais em torno dos rumos para o nosso município?

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