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Cantiga de Reis ou Reisado
 
José Ronaldo dos Santos
“Hoje é Dia de Santo Reis”. Alegremente anunciava o vovô Armiro assim que se levantava no dia seis de janeiro. Ninguém ia pescar; a roça descansava; o ritmo ficava lento: era feriado sagrado.
Geralmente a “cantoria de reis” dura todo o mês de dezembro e vai até o sexto dia de janeiro. Excepcionalmente volta-se a cantar no dia dois de fevereiro, na comemoração de Nossa Senhora das Candeias, na Festa das Candeias.
O grupo local (porque quase todas as localidades tinham o seu grupo!), muitas vezes cantava até o amanhecer, passando alegremente nas casas. Quase nunca ninguém sabia, mas, de certa forma, estavam esperando a visita, sabiam que em qualquer noite e a qualquer hora o grupo faria a sua visita. Por isso sempre tinha alguma coisa “de prontidão” para o “comes e bebes”.
No dia próprio (seis de janeiro) a cantoria, ao anoitecer, sempre foi na capela da comunidade. Todos cantam, se despedem com emoção do presépio.  Só no próximo Advento ele será novamente montado. É uma devoção popular que por muitos motivos está se esvaindo.
A letra da música que eu transcrevo a seguir foi a que recolhi do grupo da praia do Sapê, onde a voz da saudosa comadre Vitória se destacava. Há variações, mas o tema é o mesmo: os reis da banda do Oriente que buscam localizar o menino-Deus. Segue-se a antiga tradição.
    
1- Ó de casa cavalheiro/ Diga se eu posso entrar/ Se houver  algum agravo/ Ai diga que eu quero voltar.
 

2- Viemos cantar o rei/ Hoje mesmo que é devido/ Viemos trazer notícias/ Ai de Jesus nascido. 

3- Os três reis encaminharam/ Pelas partes do Oriente/ Chegam na Corte de Herodes/ Ai perguntam de repente. 

4- Onde era nascido/ O verdadeiro Messias/  Rei Herodes respondeu/ Ai eu vou ver na profecia. 

5- Lá na profecia reza/ Que era nascido em Belém/ Ides lá e voltais aqui/ Ai que eu quero ir ver também. 

6- Herodes que nem malvado/ Que nem perverso, maligno/ Foi ensinar aos três reis/ Ai as avessas do caminho. 

7- Viagem que era de um ano/ Fizeram em quinze dias/ Porque foram bem guiados/ Ai pelo infante rei-messias. 

8- Atrás daquela cabana/ Uma estrela aparecia/ Era neto de Sant’Ana/ Ai filho da Virgem Maria. 

9- São José quando se viu/ Entre nobres companhias/ De prazer e de alegria/ Ai não sabia o que fazia. 

10- Vinte e cinco de dezembro/ De meia-noite pro dia/ Nasceu o menino-Deus/ Ai filho da Virgem Maria. 

11- Eu não vos peço ofertas/ Que são coisas de valia/ luz acesa e porta aberta/ Ai e afeição de alegria. 

12- Ó senhor que estais dormindo/ Nesse seu colchão dourado/ Vinde nos abrir a porta/ Ai que aqui estão vossos criados.

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