Histórias edificantes da terra de Coaquira

Petróleo

Sidney Borges
Matéria prima fundamental da poção mágica do druida Panoramix, o "óleo de pedra", ou petróleo, tem múltiplas utilidades. Serve para impulsionar máquinas que levam pessoas daqui pra lá e de lá pra cá, mas também serve para ajudar candidatos a vencer eleições prometendo mundos e fundos antes de tirar o precioso líquido do fundo.

Há muitos anos, em meados da década de 1970, um petroleiro deixou vazar a carga em São Sebastião. Quando o óleo chegou a Ubatuba eu estava no mar a bordo da lancha do meu amigo Paulo Rui Camargo. Nossa intenção era pescar.

Desistimos. A mancha negra que cobria as águas e o cheiro do óleo fez com que voltássemos ao iate clube do Magalhães.

O desastre teve grande impacto, sujou as praias e causou devastação nas costeiras, matando animais que nelas vivem, caranguejos, ostras, peixes...

Um pescador que morava na rua Maria Alves (gente finíssima) encontrou em alto mar um albatroz debatendo-se. Tinha as penas encharcadas em óleo. A ave dava mostras de estar sem energia. Logo morreria, como aconteceu com centenas de gaivotas e mergulhões.

Depois de dar algumas bicadas o bicho ficou calmo e foi levado para a casa do pescador onde tomou um banho com detergente.

Com as penas limpas, mas ainda cansado e assustado, foi solto no quintal onde viviam seis galinhas, um galo, uma pata velha - a matriarca do terreiro - dois cachorros, um gato e um papagaio.

Os dias foram passando, o estrangeiro adaptou-se bem ao hospital, mas a pata não gostou da concorrência, ficou enciumadíssima. Na hora de alimentar os bichos o albatroz era contemplado com peixes.

As aves ganhavam milho e verduras, mas a pata complementava a ração com proteína. Postava-se atrás do albatroz e de vez em quando engolia uma guaivira ou um pampinho, embora apreciasse mais suculentas betaras.

Um dia o albatroz sentiu-se forte, decolou, deu um rasante sobre a casa balançando as asas em agradecimento e foi procurar uma fêmea para perpetuar a espécie, como fazem os seres vivos desde que Adão descobriu a serpente, ou talvez até antes.

Leio nos jornais que aquela mulher horrível que fraudou o INSS não só está livre, leve e solta, como também arranjou um emprego público.

Concluo que o Brasil é diferente. Contra os fatos, há argumentos. O do momento chama-se governabilidade.

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