Coluna do Editor

Agregando valor

Sidney Borges
A bola da vez nos centros de pesquisas do planeta é o grafeno, junção das palavras grafite + eno que significa, segundo definição da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), "uma única camada da estrutura grafítica pode ser considerada como o último membro da série de naftalenos, antracenos, coronenos, etc. e o termo grafeno deve, portanto, ser utilizado para designar a camada individual de carbono em compostos de intercalação de grafite."

Traduzindo. O que é mesmo grafeno?

Comece pegando um lápis e riscando uma folha de papel. Se você tiver um microscópio poderoso verá com seus proprios olhos, caso contrário acredite em minhas palavras: aquele risco sobre o papel que só as borrachas apagam é apenas um rastro de carbono deixado pela grafita em função do atrito com o papel. A ponta do lápis é um amontoado de folhas de grafeno, ampliada milhões de vezes ficaria parecida com um espeto de churrasco grego, que é uma delícia, mas dizem que faz mal.

Tia Zulmira, viciada em churrasco grego e Fogo Paulista, morreu aos 86 anos com o colesterol alto. Cautela pois. Eu disse que as folhas de grafeno parecem churrasco grego, mas ao contrário deste, não fazem mal, apenas ajudam os países ricos a ficar mais ricos. Sobre o Fogo Paulista prefiro calar.

Outra pergunta. O que é carbono mesmo? Lembrando das aulas de Química Orgânica do colegial, no meu caso do Científico, verifico nos neurônios que restam que o carbono, (do latim carbo, carvão) é o elemento químico de símbolo C, número atômico 6 (6 prótons e 6 elétrons), massa atómica 12 u e sólido à temperatura ambiente.

Dependendo das condições de formação, pode ser encontrado na natureza em diversas formas alotrópicas: carbono amorfo e cristalino, em forma de grafite ou ainda diamante. Esse é o carbono chique, das jóias das elites de olhos azuis que detestam pobres.

Há cerca de 10 milhões de compostos de carbono que faz parte de todos os seres vivos. Eu carbono? Pois é! Confesso que embora curioso sobre o que vai pelo mundo da ciência eu nunca tinha ouvido falar em grafeno até ter notícias do prêmio Nobel de 2010. As pesquisas que levaram ao descobrimento do grafeno deu a laura aos cientistas Konstantin Novoselov e Andre Geim, nascidos na Russia e radicados na Inglaterra.

A descoberta poderá significar uma revolução tecnológica de grande impacto. O mineral grafite é abundante no planeta e de fácil extração. As reservas mundiais totalizam 398.860 toneladas, sendo que mais da metade na China. O Brasil tem 28,3% do total (2º lugar no mundo em reservas medida e indicada).

Boa notícia, podemos fabricar lápis, muitos lápis. Mas também podemos processar "a grafita" para tirar folhas esbeltíssimas de grafeno, da espessura de um átomo e compostas por moléculas de carbono dispostas em estrutura hexagonal.

Esse material singular é visível a olho nu apesar da esbelteza, além de ser mais resistente do que o aço e impermeável à água e a óleos. Mas a principal característica do grafeno é a capacidade de movimentação dos elétrons em sua estrutura. A resistência elétrica praticamente não existe e com isso não surge o Efeito Joule, ou seja, não há produção de calor. Waal! As empresas de semi-condutores sentindo o cheiro de lucro abundante investem milhões em testes. Querem substituir o silício pelo grafeno, mais eficiente.

Em teoria, um processador de grafeno poderá chegar a mais de 500 GHz. O silício trabalha abaixo de 5 GHz. Velocidade, compactação e eficiência, esse é o universo dos processadores futuros. A barreira do calor é o maior obstáculo à lei de Moore que afirma: "o número de transistores dos chips aumenta 100%, pelo mesmo custo, a cada 18 meses. Até agora funcionou, mas o silício está abrindo o bico, colocar mais resistores nos processadores atuais significa produzir mais calor. A necessidade de resfriamento fez com que os fabricantes de chips optassem pelo acoplamento de diversos núcleos pois o crescimento do núcleo individual parece estar próximo ao limite. Chegou a vez do grafeno.

Quem sair na frente certamente ganhará muito dinheiro, um processador de apenas alguns gramas, feito de materiais abundantes na natureza, custará o mesmo que algumas toneladas de soja ou de minério de ferro, produtos da pauta de exportação brasileira.

No entanto, para produzir tecnologia de ponta que agrega valor e produz desenvolvimento é preciso educação. Pelo andar da carruagem o Brasil vai continuar exportando minério, soja, café e carne e comprando tecnologia de ponta. Desde Cabral índio dá ouro e recebe contas coloridas e apito. Índio adora apito.

Embora a propaganda oficial apregoe termos atingido o desenvolvimento, não acredite, é pura balela. Enquanto o mundo realmente desenvolvido está na era do grafeno, colhemos feno e discutimos se Marx tinha razão. Temo que isso continue por muito tempo. Um dia as autoridades governamentais entenderão que o caminho do desenvolvimento passa pelos bancos escolares. Quem sabe daqui a 300 anos. Estarei sendo otimista?

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu