Pensando vou vivendo...

A Lesma e os elétrons acelerados

Sidney Borges
Nesta chuvosa e fria manhã de 6 de setembro encontrava-me absorto em tarefas triviais quando a campainha tocou. Saí do escritório, atravessei a varanda, cruzei a sala e abri a porta. Não tinha ninguém. Imaginei que talvez fosse coisa de meninos travessos, como fui em dias longínquos perdidos num passado remoto.

Ao voltar para a labuta percebi uma diminuta criatura rastejante cruzando meu caminho. Uma lesma. Media no máximo 4 centímetros, larga, achatada e com duas antenas. Coloquei-a sobre uma folha e a levei a um lugar que me pareceu seguro. Tenho certeza de que fui observado no trajeto. Pela lesma e por São Pedro que coloca tudo no caderninho que será aberto no dia do entra-não entra.

Foi boa a sensação de ter evitado um acidente, eu poderia ter esmagado a criatura e isso talvez causasse algum desequilíbrio nos confins da galáxia. Lesmas existem por alguma razão, tudo no Universo parece ter algum propósito. Será mesmo? Supondo que a Terra seja tragada por um buraco negro e não haja mais o olhar humano, continuarão as estrelas a brilhar e os cometas a riscar os céus? Pra quê? Um palco somente com atores, sem platéia? Qual é a graça?

Maxwell, atento às observações de Faraday concluiu que cargas elétricas aceleradas emitem energia. Rutherford reformou o pudim de passas e criou o átomo planetário, com os elétrons girando em torno do núcleo como os planetas giram em torno do Sol. Perigo! Presos ao núcleo em órbita circular os elétrons têm aceleração centrípeta. Cargas elétricas aceleradas emitem energia, logo os elétrons cansados dos rodopios seriam tragados, cairiam nos núcleos e o Universo colapsaria, voltando tudo à estaca zero. Outro Big-bang, nesse caso Bang-bing? Bohr nos salvou. Elétrons têm salvo conduto quando giram de acordo com a órbita que lhes foi reservada, minha avó sempre dizia: cada macaco no seu galho. Sem perder energia e sempre a girar eles mantém a solidez de tudo o que parece sólido e na verdade é um imenso conjunto de vazios. O Universo é uma grande charada. Hoje vou brindar à lesma e a Niels Bohr.

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