Opinião

Perdendo o melhor mercado

O Estado de S.Paulo
Confrontado com a perda de participação do Brasil no comércio mundial de produtos de alta tecnologia, soa hoje como ironia o lema "Inovar para competir. Competir para crescer" com que foi amplamente anunciado o Plano Brasil Maior, por meio do qual o governo Dilma Rousseff pretendia, entre 2011 e 2014, reinserir competitivamente a produção industrial brasileira no comércio mundial e assegurar a ampliação de seu mercado dentro do País.

O crescimento da indústria brasileira no ano passado não foi suficiente para compensar a retração registrada em 2012, o setor vem perdendo competitividade e não está conseguindo nem mesmo preservar sua fatia no mercado interno. O problema é ainda mais agudo no segmento dos produtos de alto conteúdo tecnológico. Há anos o Brasil vem ficando para trás na disputa por espaços no mercado mundial de bens de tecnologia de comunicação, como telefones celulares, computadores, notebooks e componentes eletrônicos. Trata-se do mercado que mais cresce no mundo e, com vendas anuais estimadas em US$ 1,8 trilhão, que representa cerca de 11% do comércio total, já é maior do que o de produtos agrícolas.

O Brasil nunca foi grande exportador mundial de bens de comunicação, mas vem perdendo rapidamente a fatia que chegou a alcançar nesse mercado. Em 2005, para exportações totais de US$ 1,4 trilhão, o Brasil exportou US$ 3,7 bilhões, ou 0,26% do total. Já pequena, essa fatia se reduziu para menos de 0,1% em 2012, segundo os dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Enquanto as exportações mundiais passaram para US$ 1,8 trilhão, as do Brasil caíram para US$ 1,3 bilhão, pouco mais de um terço do valor exportado sete anos antes.

Entre outros desafios relacionados no Plano Brasil Maior estavam a intensificação do progresso tecnológico da indústria e o enfrentamento da concorrência internacional mais acirrada. Entre o que os autores do plano chamavam de "diretrizes estruturantes" estavam "a ampliação e criação de novas competências tecnológicas e de negócios", para incentivar atividades e empresas com potencial para ingressar em mercados dinâmicos, e "diversificação das exportações (mercados e produtos)".

Muito pouco foi alcançado. Estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) com base nos números da balança comercial mostra que, em 2013, dos quatro tipos de produtos típicos da indústria de transformação classificados por intensidade tecnológica, o Brasil só conseguiu superávit no comércio dos bens de baixa intensidade, como alimentos, bebidas, produtos madeireiros, papel, celulose, têxteis, vestuários e calçados.

O comércio de bens de alta intensidade tecnológica, porém, registrou um déficit de US$ 32,0 bilhões. As exportações desse bens somaram US$ 9,7 bilhões (o critério de classificação do Iedi é bem mais amplo do que o da Unctad, pois inclui, além dos eletroeletrônicos, bens da indústria aeronáutica e produtos farmacêuticos), enquanto as importações alcançaram US$ 41,7 bilhões.

Embora o Brasil tenha uma pauta de exportações bastante diversificada e um mercado igualmente diversificado para seus principais produtos, o que sugere um grande potencial de crescimento, os resultados recentes mostram uma tendência à concentração das vendas externas em um número limitado de bens e para um número limitado de destinos, o que pode limitar a expansão do nosso comércio exterior.

Uma das causas dessa tendência à concentração é o desprezo com que os governos do PT trataram o relacionamento com os principais parceiros, a começar pelos Estados Unidos, e a necessária busca de acordos comerciais com grandes compradores, depois de terem fracassado as negociações para a abertura do comércio mundial. Parceiros considerados prioritários pelo governo, como a Argentina, além de permanentemente ameaçarem as exportações brasileiras, são menos exigentes em termos de inovação e tecnologia do que os países mais desenvolvidos, o que desestimula investimentos industriais.

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