Opinião

Freixo levou o Rio para a vida real

Elio Gaspari
Na noite de domingo (2), quando já se definira o naufrágio da candidatura de Pedro Paulo à Prefeitura do Rio, ele estava reunido com os conselheiros do PMDB. O chefe de uma das grandes famílias do grupo sustentou que se deveria patrocinar um suave deslizamento de seus votos na direção de Marcelo Freixo. Eleito, ele seria um prefeito tão ruinoso que ajudaria o PMDB a continuar no governo do Estado em 2018 e garantiria seu retorno à prefeitura em 2020.

A reunião aconteceu na Gávea Pequena. Nada a ver com a propriedade da família Corleone nas cercanias de Nova York.

A mobilização do apocalipse contra Marcelo Freixo durante a campanha eleitoral é uma fava contada, mas a proposta da Gávea Pequena era muito mais que isso: o conselheiro não ameaçava com o fim do mundo, desejava-o, para dele tirar proveito.

Todo resultado eleitoral contém diversos recados e, no do Rio, esteve o repúdio ao modo de mando do PMDB. Não seria apenas um modo de fazer política, mas um modo de mandar, um coronelismo cosmopolita. A galeria de notáveis do PMDB do Rio junta Pezão, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, duas gerações de Piccianis e Eduardo Paes. Produziram uma calamidade e foram batidos por um candidato que tinha 11 segundos de tempo na propaganda pública.

O modo de mando do PMDB do Rio criou uma realidade virtual e deu-se mal porque acreditou nela. O eleitorado não comprou a ideia de que o Estado faliu, mas a prefeitura olímpica não teria parte nisso. Não houve aí um erro de estratégia, defeito de marquetagem ou coisa do gênero. O que aconteceu foi o colapso de uma empulhação.

Um dos símbolos da fantasia cosmopolita é o teleférico do Alemão. Custou R$ 253 milhões, foi inaugurado duas vezes e madame Christine Lagarde, diretora do FMI, viajou nele, sentindo-se no Alpes. A engenhoca está parada e a Operação Lava Jato está de olho na licitação vencida pela Odebrecht. (Isso para não se falar nos negócios da campeoníssima empreiteira Delta.) No mundo real o teleférico não fica nos Alpes, o Rio não é Barcelona e, por isso, o PMDB não conseguiu o voto dos cariocas.

O cosmopolitismo tem um pé nos Alpes de madame Lagarde e o outro no coronelismo. Os hierarcas do PMDB apresentam-se como grandes gestores porque condenam os subsídios dos transportes públicos. Eduardo Paes e, até 2013, quando o povo foi para a rua, Sérgio Cabral foram campeões dessa retórica. Durante muito tempo, Marcelo Freixo foi uma voz solitária na condenação da privataria dos transportes públicos da cidade.

A nova campanha será decidida nos debates de Marcelo Crivella com Freixo. É uma eleição municipal e todo mundo ganhará se neles forem expostas ideias para a cidade. Espiritualizar o debate leva a nada. Crivella é evangélico, mas não se deve esquecer que a religião já foi manipulada, sem sucesso, para demonizar um candidato católico. Chamava-se John Kennedy. Puxar temas como o aborto pode parecer útil, mas também não serve para nada. Em 1996, Sérgio Cabral usou essa bandeira para demonizar Luiz Paulo Conde e, nove anos depois, defendeu o aborto com o pior dos argumentos: o controle da natalidade nas comunidades pobres. Hoje Conde dá seu nome nome à orla olímpica e Cabral cultiva obsequioso silêncio.

A ida de Freixo para o segundo turno teve o mérito de colocar a eleição do Rio na vida real.

Original aqui

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