Coluna do Celsinho

Diabolô

Celso de Almeida Jr.

É sempre assim.

Quando o médico pede um novo Raio X do pulmão, lá está ele.

Parado, há quase 40 anos.

Marca boa, Diabolô.

Chumbinho de espingardinha de pressão.

A história foi a seguinte.

Na rua Cunhambebe éramos vizinhos do Cícero Assunção, irmãos, irmãs e pais queridos.

No terreno deles, um lindo pé de Jambo, fruta azedinha, gostosa, estendia seus galhos também para o nosso terreno, garantindo sombra e frutas sobre nossas cabeças.

Minha diversão era, com a espingardinha, mirar no caule, derrubar o Jambo e me deliciar.

Num dia, criança, fazia isso com um amigo, quando chegou o Silvinho Brandão com um arquinho e flecha de ponta de borracha.

Peguei o brinquedo, mirei e lancei a flechinha no amigo que segurava a espingarda.

Ele, sem pensar, revidou.

O detalhe é que revidou com um tiro, que levou o chumbinho a furar o meu peito, desviar numa costela e ficar lá, quieto.

Minha primeira reação foi gritar pro Marquinho Teixeira, o outro vizinho, já que meus pais não estavam em casa.

Até hoje, o Marquinho, dando gostosas risadas, lembra de minha exclamação:

"Ele me matou!!!"

Levou-me para a Santa Casa.

De lá, segui para São Paulo, cujo médico mostrou que tinha levado um tiro de espingarda de cartucho, quando era criança, e mostrou-me que ainda tinha não um, mas vários chumbinhos no corpo, inclusive na orelha.

Toquei sua pele, senti as bolinhas de chumbo e fiquei chateado, já que àquela altura eu sentia-me um John Wayne ferido, sem concorrentes, herói do filme.

A conclusão foi que era melhor deixar o chumbinho lá, quieto, evitando uma cirurgia traumática.

Meu companheiro de tantas décadas, portanto, seguirá comigo para a eternidade.

Claro que perdoei meu colega atirador, que ficou muito abalado com aquela história.

O saldo de tudo isso é que, de lá prá cá, compreendi que, num descuido, crianças podem arrumar grandes confusões.

O leitor que conhece minha família pode imaginar a aflição de meus pais e o lamento por terem me  deixado brincar com aquela espingarda aparentemente inocente.

E se o tiro acertasse um olho?

E se a costela providencial não tivesse desviado a trajetória do chumbinho?

E se..., e se..., e se...

Pois é, prezado leitor, querida leitora.

Sempre há riscos nas muitas etapas do desenvolvimento de nossas crianças e jovens.

É claro que não devemos deixá-los isolados, em verdadeiras "bolhas" de proteção.

Mas, os desdobramentos de certas ações, brincadeiras, atividades, podem apontar para um final não feliz.

Nesse sentido, seguir o lema dos escoteiros contribui para a nossa paz:

"Sempre alerta!!!!"

Visite: www.letrasdocelso.blogspot.com

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