Opinião

Confissões na ONU

Estadão
As pessoas otimistas e de boa vontade podem apontar pelo menos um sinal de progresso nas palavras da presidente Dilma Rousseff em Nova York. Desta vez ela se absteve de falar em negociação com o Estado Islâmico. Não se pode ter complacência, disse ela em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), com atos de barbárie tais como “aqueles perpetrados pelo chamado Estado Islâmico e por outros grupos associados”. Inegável o avanço nesse quesito. Mas nenhum grau de boa vontade é suficiente para encontrar algo positivo em seus comentários sobre a economia nacional. Ela continua atribuindo o desastre brasileiro – recessão, desemprego em alta, inflação disparada e contas públicas em frangalhos – à crise iniciada em 2008 nos países mais avançados e ao fim da euforia no mercado internacional de commodities. Nada disso entra na conta de qualquer erro do governo. O discurso, nessa parte, seria até divertido, se fosse menos preocupante.

Se a presidente se mostra ainda incapaz de entender as barbaridades cometidas na política econômica, especialmente a partir de 2011, como confiar em sua capacidade para consertar os danos e levar o País de volta ao crescimento? “Por seis anos”, disse ela, “buscamos evitar que os efeitos da crise mundial que eclodiu em 2008, no mundo desenvolvido, se abatessem sobre nossa economia e nossa sociedade.” Seus críticos sempre souberam disso e ela confirma, com suas palavras, a própria incapacidade e a de seus ministros de perceber os fatos.

O mundo começou a vencer a recessão em 2010, a economia americana voltou a crescer, Alemanha e Reino Unido logo se aprumaram e até os países com maiores problemas fiscais conseguiram avançar nos anos seguintes. Os mais dinâmicos da Ásia mantiveram alto ritmo de expansão e vários latino-americanos progrediram mais rapidamente que o Brasil.

Enquanto isso, o governo brasileiro insistiu em políticas de estímulo ao consumo e de benefícios carimbados para alguns setores e empresas. “Aumentamos os empregos, aumentamos a renda nesse período”, disse a presidente.

Mas o emprego cresceu principalmente em serviços de baixa produtividade. Na indústria, o nível de ocupação diminuiu seguidamente durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
O investimento, também citado como item positivo no discurso presidencial, de fato nunca deslanchou. Bateu em 20,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2013. Um ano depois estava em 19,5%. No segundo trimestre deste ano ficou em 17,8%. Mesmo a mais alta dessas taxas seria insuficiente para sustentar uma sólida expansão. Entre 2011 e 2014 o PIB brasileiro cresceu à taxa média anual de 2,1%. Na vizinhança, houve taxas médias de 4,3% no Chile, 5% na Colômbia, 5,2% no Peru e 5,4% no Paraguai.

Desempenho pior que o do Brasil, entre os sul-americanos, só na Venezuela e na Argentina, também submetidas ao populismo e ao mais tosco intervencionismo.

Esse esforço chegou agora ao limite, tanto por razões fiscais internas quanto por aquelas relacionadas ao quadro externo. A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento”, explicou a presidente, num patético esforço de justificação. Não tem sentido falar da “lenta recuperação da economia mundial”, quando até os países mais danificados pela crise iniciada em 2008 crescem mais que o Brasil. A contração de 2,7% projetada pelo Banco Central para este ano é um dos piores desempenhos previstos para 2015. Para 2016 as projeções do mercado indicam um novo recuo de 1%. Nos dois anos a produção industrial, segundo estimativas do setor privado, deve continuar encolhendo.

Quanto à excessiva dependência da exportação de commodities, é consequência dos erros econômicos e diplomáticos dos governos petistas. A menção ao fim do “superciclo das commodities”, longe de ser uma justificativa, é uma confissão de incompetência.

Original aqui 

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