Opinião

A Poliana desajeitada

Estadão
"Temos uma clara estratégia econômica.” Dita em entrevista ao jornal Valor, a propósito do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), essa inacreditável frase da presidente Dilma Rousseff resume por que razão devemos temer pelo futuro do País enquanto estiver sendo governado pela petista. Pois foi justamente em razão da falta de uma estratégia clara para enfrentar a crise, na qual o Brasil se encontra graças basicamente à incompetência de Dilma e a uma administração populista que se pautou apenas por interesses eleitoreiros, que a agência americana decidiu tirar do País o selo de bom pagador. Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre como chegamos a esse ponto, Dilma, nessa entrevista, tratou de explicar tudo de forma bem didática.

A respeito da decisão da S&P, que muito provavelmente será seguida pelas demais agências de classificação de risco, Dilma tentou demonstrar que, para o País, não faz nenhuma diferença ter ou não ter o grau de investimento. Ela explicou que, entre 1994 e 2015, o Brasil só teve esse grau durante sete anos, a partir de 2008, e portanto a classificação negativa “não significa que o Brasil esteja em uma situação em que não possa cumprir as suas obrigações”. Negando toda a fragilidade constatada pela S&P e o fato de que a perda do grau de investimento acarretará dificuldades ainda maiores para reequilibrar as contas públicas, Dilma garantiu: “Vamos continuar nesse caminho”.

O “caminho” a que ela aludiu é o de fazer cortes superficiais nas despesas – pois ela não tem coragem nem capital político para realizar os cortes realmente necessários – e pisar no acelerador da arrecadação, algo que, em meio a uma economia em plena marcha à ré, só será possível com uma brutal elevação de impostos. Ou seja, no fim do caminho espera-nos um abismo.

Dilma deu uma pista do tamanho da conta a ser jogada no colo dos contribuintes ao informar que seu governo mantém a meta de obter um superávit fiscal de 0,7% do PIB em 2016 – uma ficção na qual nem mesmo a ingênua Poliana, se presidente fosse, conseguiria acreditar. “Nós temos hoje um déficit de 0,5%. Assim sendo, é preciso tomar medidas de gestão de contenção da despesa. Mas é sobretudo das (despesas) obrigatórias. Mantidos os compromissos que assumimos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e olhando as demais, você não tem margem para cumprir 0,7%. Então, inequivocamente, teremos de ter ampliação da receita”, explicou Dilma. E, para ninguém ficar em dúvida, ela deixou claro que, na sua visão, a obrigação de cobrir o rombo criado por sua desastrosa gestão é do conjunto dos brasileiros: “(A conta) não fecha sem aumento de receitas, a não ser que o pessoal queira ficar com o 0,5% do PIB de déficit”. O “pessoal” a que ela se refere são os contribuintes e o Congresso.

Quando questionada se o governo não deveria se esforçar um pouco mais antes de aumentar os impostos, Dilma disse que ainda pretende fazer cortes, “enxugar mais um pouco”. Confrontada com o fato de que, ao contrário, a despesa apresentada pelo governo para 2016 crescerá em termos reais, Dilma limitou-se a dizer: “Vamos olhar tudo direitinho”.

Diante da insistência da entrevistadora, que lhe lembrou que a despesa pública cresce acima do PIB há tempos e, portanto, há muito ainda o que cortar, a presidente disse que há diversas variáveis que influenciam o equilíbrio fiscal e, para tranquilizar os brasileiros, disse: “Para cada uma dessas variáveis, vamos olhar como é que fica”. Mais bem explicado, impossível.

Esses são os planos da presidente para enfrentar a maior crise econômica dos últimos tempos. Não surpreende que as agências de classificação de risco duvidem da capacidade da administração petista de reverter o quadro no curto prazo. Enquanto essas agências são obrigadas por seus clientes a fazer avaliações realistas sobre a economia brasileira, Dilma continua fiel à visão lulopetista de que basta “vontade política” para que o País supere o que ela definiu, singelamente, como um “problema momentâneo”. Graças a esse estado de negação, a S&P já avisou que são grandes as possibilidades de rebaixar a nota do Brasil ainda mais.

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