Opinião

A Lava-Jato no topo do andar de cima

A Odebrecht e a Andrade Gutierrez não são acusadas só pelo "amigo Paulinho" mas também por três dirigentes de empreiteiras

Elio Gaspari
Em outubro passado, quando o “amigo Paulinho” (expressão carinhosa atribuída a Lula) jogou a Odebrecht na frigideira da Lava-Jato, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, soltou uma nota oficial dizendo o seguinte:

“Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denuncia vazia de um criminoso confesso que é ‘premiado’ por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas”.

Passados oito meses, o doutor, bem como Otávio Azevedo, presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, estão na carceragem de Curitiba. Ao expedir a ordem de prisão contra eles, o juiz Sérgio Moro deu uma demonstração parcial da quantidade de provas acumuladas pela Polícia Federal e pelo Ministério Publico.

A Odebrecht e a Andrade Gutierrez não são acusadas só pelo “amigo Paulinho” mas também por três dirigentes de empreiteiras, que descreveram o funcionamento do cartel de roedores da Petrobras. Rastreamentos internacionais de depósitos bancários, anotações e mensagens eletrônicas documentaram a ordem de prisão expedida pelo juiz Moro. Diante de tanto material, a nota de outubro parece ter sido produto de um destempero de Odebrecht.

Na lista de presos da Lava-Jato entrou João Antonio Bernardi, que trabalhou na empreiteira e também na Camargo Corrêa. Durante algum tempo ele esteve na empresa Hayley, que mimou o diretor da Petrobras Renato Duque com R$ 500 mil em obras de arte. Talvez Bernardi tenha algo a contar. A polícia e os procuradores certamente têm o que perguntar.

Por mera curiosidade, ele poderá esclarecer um episódio. Há algum tempo, carregando uma maleta na avenida Chile, a caminho da Petrobras, teria sido assaltado. O pivete levou a maleta e ele teria apresentado queixa à polícia. O que carregava, não se sabe.

No meio de tanta gente boa metida nas petrorroubalheiras, o ladrão da maleta pode ter sido o único que, como o J. Pinto Fernandes do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond, “não tinha entrado na História”.

Original aqui

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