Opinião

A fraqueza da indústria

O Estado de S. Paulo
A crise brasileira só estará vencida quando a atividade industrial estiver de novo em firme crescimento e as exportações de manufaturados voltarem a aumentar - um quadro muito distante daquele formado pelos números conhecidos até agora. A produção industrial caiu 0,8% de fevereiro para março, ficou 3,5% abaixo da de um ano antes e diminuiu 4,7% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A reação dependerá de uma ampla mudança na política econômica e o primeiro passo será consertar as finanças públicas. Mas esse passo, embora indispensável, será insuficiente para abrir uma nova etapa de expansão segura e duradoura. A economia voltará à prosperidade quando a indústria for de novo um foco de dinamismo e isso ocorrerá somente com muito investimento.

Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) completam o cenário negativo. De janeiro a março, o faturamento real do setor de transformação foi 6% menor que no primeiro trimestre do ano passado. Na mesma comparação, as horas de trabalho na produção diminuíram 8,5%, o emprego caiu 3,9%, a massa de salários reais encolheu 4,1% e a redução do salário médio real foi de 0,2%. De fevereiro para março, o faturamento real cresceu 0,5% e o uso da capacidade instalada aumentou 0,7 ponto porcentual, mas a melhora desses números foi insuficiente para mudar o panorama. A devastação na indústria foi generalizada nos últimos anos e pouquíssimos setores continuaram em crescimento e foram capazes de competir internacionalmente. Uma das exceções foi o segmento aeronáutico. No primeiro trimestre, 16 dos ramos listados no relatório da CNI tiveram faturamento real menor que o de um ano antes. As maiores quedas ocorreram nas atividades de impressão e reprodução (32,7%) e nas fábricas de vestuário (25,5%), máquinas e equipamentos (18,4%), veículos automotores (16,8%) e produtos metalúrgicos (15,3%).

A crise no setor automobilístico está vinculada à suspensão dos incentivos fiscais à compra de automóveis e às dificuldades de exportação, explicáveis em boa parte pelo atoleiro econômico argentino. Há anos as empresas do setor automotivo se acomodaram num comércio exterior burocrático, marcado pelo protecionismo brasileiro e por um pacto de mediocridade entre indústrias e governos do Brasil e da Argentina.

O caso da indústria automobilística é uma boa ilustração das escolhas patrocinadas pela diplomacia comercial brasileira desde a implantação, em 2003, do terceiro-mundismo petista. Vários outros segmentos também se acomodaram como abastecedores de mercados da vizinhança, onde passaram a enfrentar, há alguns anos, a dura concorrência de chineses e outros asiáticos. Mas para entender o quadro geral convém dar atenção a outro detalhe, especialmente importante, dos números recém-divulgados.

Segundo o IBGE, a fabricação de bens de capital - máquinas e equipamentos - diminuiu 4,4% de fevereiro para março, encolheu 13,8% em 12 meses e no primeiro trimestre foi 18% menor que no período correspondente de 2014. Segundo a CNI, o faturamento real do segmento, em março, foi 16% menor que o de um ano antes. A comparação entre os primeiros trimestres de 2014 e de 2015 aponta uma queda de 18,4%. Os dados são negativos também para horas de trabalho, uso da capacidade instalada, emprego, massa salarial real e rendimento médio real. Isso combina perfeitamente com a queda da importação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. De janeiro a abril, o valor dessas importações (US$ 14,2 bilhões) foi 12,3% menor que o dos primeiros quatro meses do ano passado.

Isso significa redução do investimento na ampliação e na modernização da capacidade produtiva. Há anos se investe muito menos que o necessário. Isso prejudica a produtividade e a competitividade. Não se investe sem confiança. Também por isso a execução de uma política séria é especialmente importante. Se o governo avançar nos ajustes e reformas, empresários nacionais e estrangeiros terão motivo para confiar e para voltar a investir.

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