Opinião

A indústria acuada

Estadão
Enfraquecida por enorme acúmulo de erros políticos, a indústria nacional continua perdendo espaço tanto no mercado externo quanto no interno. A participação dos bens importados no mercado nacional chegou a 22,3% nos quatro trimestres até o período janeiro-março deste ano. Um ano antes estava em 21,7%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Numa economia mais saudável e administrada com maior pragmatismo, o aumento da presença de bens importados seria consequência de maior abertura e maior integração no comércio global. Não é o caso brasileiro. O País continua muito fechado, seu comércio exterior diminuiu no último ano e a fatia dos produtos comprados no exterior cresceu porque a produção nacional é ineficiente, os custos são muito altos e é baixo o poder de competição da maior parte das empresas.

O coeficiente de exportação, de 19,1% das vendas industriais no período anual encerrado no primeiro trimestre, é igual ao registrado um ano antes. Desde 2012 tem oscilado em níveis próximos de 19%. Nos últimos quatro anos, a produção industrial permaneceu basicamente estagnada, com algumas oscilações pouco significativas, foi incapaz de acompanhar a ampliação do consumo e perdeu participação fora e dentro do País.

Entre janeiro e abril, as exportações de industrializados, de US$ 30,42 bilhões, foram 9% menores que as dos primeiros quatro meses de 2014. Esse conjunto inclui manufaturados e semimanufaturados. No caso dos manufaturados, a receita, de US$ 21,87 bilhões, foi 11,3% inferior à do quadrimestre correspondente do ano passado.

Também se reduziram as compras externas, embora a participação porcentual dos importados no mercado nacional tenha crescido. As compras de bens de capital foram 18,4% menores que as de janeiro-abril de 2014. As de matérias-primas e bens intermediários foram 19,8% inferiores às de um ano antes. No mesmo tipo de comparação, as importações de bens de consumo recuaram 17,9% e as de combustíveis e lubrificantes diminuíram 48,3%.

Somados todos os itens do intercâmbio, a corrente de comércio do Brasil com o exterior ficou em US$ 120,93 bilhões, 16,1% abaixo do valor computado nos primeiros quatro meses do ano passado. Parte dessa redução é explicável pela queda dos preços de produtos básicos, mas os fatores mais importantes são outros – a paradeira da economia nacional e a incapacidade competitiva da maior parte da indústria brasileira.

Essa incapacidade resulta da conjunção de vários erros de política econômica. Durante os oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o investimento permaneceu muito baixo no Brasil, geralmente abaixo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo deu muita atenção às políticas de inclusão no mercado de consumo e pouco se ocupou com a expansão da capacidade produtiva. Enquanto a economia internacional prosperou e as contas públicas brasileiras permaneceram mais ou menos em ordem, as deficiências da política foram menos notadas. A partir de 2008 o quadro mudou.

O governo reagiu à crise aumentando o gasto público e aumentando a oferta de crédito oficial – a chamada política contracíclica. Em 2010, o Brasil havia vencido os impactos mais fortes da crise, mas a estratégia foi mantida e até ampliada. A gastança e as transferências do Tesouro para os bancos oficiais aumentaram, benefícios fiscais e financeiros foram concedidos a grupos e setores selecionados e a produção industrial continuou estagnada. Ao erro de diagnóstico somou-se o equívoco na escolha dos instrumentos. Foram desperdiçadas centenas de bilhões. Um dos erros foi a opção pelo protecionismo, combinado com a preferência pelo comércio com países emergentes e em desenvolvimento.

Fora dos principais fluxos de comércio, dos acordos bilaterais e inter-regionais e das cadeias globais de valor, o Brasil só pode jogar, e com sucesso cada vez menor, nas divisões inferiores. Os dados da CNI mostram parte dos efeitos de uma sucessão de erros. Para vencer os erros é preciso entendê-los e reconhecê-los. Nenhum desses passos foi dado pela presidente Dilma Rousseff.

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