Opinião

Oposição é para se opor – não para ajudar o governo

A oposição existe para disputar o poder. E para isso ela precisa se opor. Confrontar suas ideias com as ideias postas em prática pelo governo

Ricardo Noblat

O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) é um político experiente, sensato, equilibrado, e um jurista que acumulou vasto conhecimento.

É por isso que estranho as declarações que os jornais de hoje lhe atribuem a propósito do papel que a oposição deve exercer.

Temer visitou Portugal. E ali, em reunião com a Comissão de Negócios Estrangeiros do parlamento português, teria dito:

- A cultura política do Brasil é a seguinte: quando alguém perde uma eleição, seja para a prefeitura, seja no Estado, seja na União, ele necessariamente se coloca na posição de antagonista. Ou seja, eu sou oposição porque devo me opor àquele que venceu as eleições, quando, na verdade, a ideia de oposição no sistema democrático é para ajudar a governar.

E teria dito ainda:

- Quando a oposição fiscaliza, questiona, pondera, quando ela coloca contestações e objeções, ela está ajudando a governar. Este é o papel da oposição, especialmente para que não haja um sistema de controle absoluto por um único setor da sociedade, ou seja, aquele que venceu as eleições. Isso seria muito próximo de um Estado absolutista, um Estado ditatorial.

Ora, em países democráticos, e é o caso do nosso, a oposição fiscaliza, questiona, pondera e se opõe ao que acha errado. Portanto, ela ajuda, sim, a governar, como pede Temer.

Mas esse, aqui e em parte alguma, é o único papel da oposição. Não é mesmo nem o principal.

A oposição existe para disputar o poder. E para isso ela precisa se opor. Confrontar suas ideias com as ideias postas em prática pelo governo.

Uma oposição que acima de tudo colabore com o governo desfigura a democracia e enfraquece um de seus bens mais preciosos – o conflito.

Original aqui

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