Opinião

Pequena história do combate à corrupção no Brasil

Renitente é a corrupção ou o modelo de, prometendo acabar com ela, ganhar o poder? As duas coisas? Mocinhos amanhã serão bandidos e vice-versa?

Tânia Fusco
Duas coisas são repetidas na nossa história política - sempre da M quando a campanha política não acaba na eleição e é o “combate a corrupção” que leva o povo para rua e derruba presidentes. 

Numa historinha pra lá de simplificada, vamos começar por Getúlio Vargas, que enterrou a República Velha. Embora tenha vencido a presidencial de 1950, com 48% dos votos e na maioria dos estados – em São Paulo inclusive –, não teve trégua da oposição até seu suicídio em agosto de 1954, três anos e oito meses depois de ter assumido a presidência.

Defeitos mis. Qualidades também. Mas qual foi a tecla batida e rebatida que derrubou Getúlio? Denúncias de desmandos e corrupção que, junto com a carestia, sempre horrorizam e mobilizam nós cidadãos com ou sem ideologia, filiação partidária ou crença.

O difuso macro poder, naquele momento e em outros tantos, queria outro rumo. Manobrou e derrubou. Vamos para o próximo.

De Getulio para cá, só JK e Lula escaparam da armadilha de campanhas que não acabam com a eleição, quando há divisão clara de posições e disputa acirrada. Com diferenças de estilo e valores, ambos tiveram apontados desmandos, compadrio e corrupção. Lula escapou da inflação. JK não.

Não fosse o legalista Marechal Lott, Juscelino nem tomaria posse. Estreou no governo encarando rebeliões militares, greves e carestia. Habilidoso, salvou-se na artimanha desenvolvimentista que lhe garantiu parceria forte do business - banqueiros, empreiteiros, comerciantes e grandes indústrias – a automobilística como carro chefe.

Levantou Brasília, rasgou estradas para rodar os novos carros nacionais e segurou a onda até o fim do governo, mas não fez o sucessor. Foi derrotado por Jânio Quadros, um outsider histriônico, que venceu com o recorrente mote de varrer do mapa o que, o que? A “corrupção desenfreada” do governo JK. (Ó ela ai de novo!)

Nós, os de mais de 50, temos lembrança do “Varre, varre vassourinha...”, jingle da campanha de Jânio que, claro, tinha a vassoura como símbolo.

Jânio cabia no modelão populista. Sozinho, carregava caspas nos ombros e um partideco, o PTN, sinalizava seguir cartilha da velha UDN – diligente e eterno combate à corrupção!  Mesmo carecendo de apoio político, botou fé nos votos e tentou voo solo. Acabou aterrado por umas tais “forças ocultas e terríveis”. Vazou da presidência seis meses e 27 dias depois de empossado.

Dessa vez, não deu nem tempo do povo pegar o terço e ir para rua num Fora Jânio! Mas, em páginas, corações e mentes de brasileiros vigilantes, já havia certo ensaio contra o bicho papão da ameaça comunista – condecorou Che Guevara, o ícone guerrilheiro! -, a carestia/inflação e a corrupção.

Além de proibir biquine e briga de galo, Jânio, sem nunca ter explicado sua renúncia, foi quem começou a contagem regressiva para uma “tenebrosa” ditadura, que durou 20 anos e – lembram? - teve como principal motivação o que? O que? O combate à corrupção!

Entre o Jânio desvairado e o golpe militar de 1964, houve o Jango, o vice, trabalhista e nacionalista, que, sob permanente crise, segurou-se dois anos e 23 dias no governo.

Dessa vez deu tempo do povo a-me-a-ça-do, terço em punho, ir pra rua defender a pátria do populismo e do comunismo, dos desmandos, do aparelhamento do estado, e da corrupção.  Fora Jango!

Eita! De novo a saúva maldita e resistente da corrupção, que derruba governos, mas não cai em desuso, seja como prática, seja como mote para defenestrar presidentes/grupos de poder.

Dizem que a História só se repete como farsa e Collor repetiu Jânio. Não empunhou vassoura, mas prometeu caça aos marajás municipais, estaduais e federais. Corrupção nunca mais!

Confiscou dinheiro, desdenhou a oposição - “forças ocultas”? - e descuidou dos cofres. Povo na rua. Da noite pro dia, não era mais o verde-amarelo namoradinho do Brasil, mas refém da ira popular: abaixo a corrupção, o desmando e a inflação, que galopava, ameaçando a República desde o governo anterior - do presidente Sarney. Rolou.

FH que, dizem, nasceu virado pra lua, ganhou-ganhando embalado no Real e na bendita estabilidade econômica. Não balançou nem na má lição do ministro: o que é bom a gente mostra, o que é ruim esconde.

Dois mandatos. Até que a economia vacilou, a privatização prevaricou, faltou luz .O tal do mote da corrupção bateu na porta.  “Fora FHC!” não colou, mas deu gás para a eleger muito bem o Lula, que iria acabar com a corrupção no Brasil.

Agora vai! A oposição barbuda e comunista (!) chegou ao poder. Imperdoável e até dolorido para uns tantos, mas esperança para outros milhares.

Lula precisou suar a camisa, mas passou pelo mensalão. Só que deu motivo. Deixou rastro.  Petrobrás bichada? Como assim?  Lá vem a velha ladainha e cai pesada no colo da tia Dilma: contra a corrupção, aparelhamento do Estado, os desmandos!

A coisa anda tão brava, que até o medo do comunismo estão ressuscitando. Diz que por esses dias o povo vai para rua de novo contra o que já derrubou o Getúlio, o Jango e o Collor, ameaçou JK e Lula, bordeou o FHC. (Repetirão o modelo do terço em punho?).

Diz ai: quem é o ovo, quem é a galinha? Renitente é a corrupção ou o modelo de, prometendo acabar com ela, ganhar o poder? As duas coisas? Mocinhos amanhã serão bandidos e vice-versa?

Original aqui

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