Opinião

Dilma, Lula e a rua

Elio Gaspari
Com 39 ministros ao alcance de um telefonema, Dilma foi a São Paulo conversar com Lula, buscando os conselhos de Nosso Guia. Magoada e inconformada com os números da pesquisa do Datafolha que expôs o estilhaçamento de sua imagem, ela busca uma saída. Sabe-se lá o que Lula teve a oferecer, mas em menos de dois meses a doutora ficou na avenida com um desfile caótico. Seu enredo, anunciado durante a campanha eleitoral, está vencido e algumas de suas alas desfilam com as fantasias da escola de Aécio Neves. Seu samba, com dois puxadores –Joaquim Levy na Fazenda e o PT no Planalto– está atravessado. Isso tudo e mais uma arquibancada cética.

Essa bola rolará para o marqueteiro João Santana. Em 2013, quando o "monstro" foi para a rua ele expôs uma corajosa ideia, segundo a qual a doutora estava blindada em relação aos protestos. Nas suas palavras, ao repórter Luiz Maklouf Carvalho:

"É honesta? Tem comando? O governo está gerindo bem? A economia está bem? (...) Os protestos não podiam ser em relação a Dilma. (...) Era emoção –e não sentimento".

De fato, as pesquisas indicavam que a doutora passava em todos os quesitos, e Santana acertou na mosca. E agora?

"É honesta?" Pode ser, mas 77% dos entrevistados pelo Datafolha acham que ela sabia o que acontecia na Petrobras.

"Tem comando?" Pode ter, mas 44% acham seu governo ruim, ou péssimo, contra 23% em dezembro.

"A economia está bem?" Não. Tudo indica que não houve crescimento em 2014, nem haverá neste ano, com a inflação estourando a meta.

Se em 2013 havia mais emoção que sentimento, agora o que há é sentimento. Se houver emoção, será a do travo de quem foi iludido na campanha eleitoral, percebendo que Dilma Rousseff tem uma relação agreste com a verdade.

A doutora corre o risco de ouvir de novo o ronco da rua. Isso acontecerá quando os organizadores de protestos pedirem proteção da polícia para afastar mascarados e desordeiros que se infiltram nas manifestações. Afinal, a polícia não é paga para testemunhar o desvirtuamento de protestos pacíficos.

E a saída? Talvez Nosso Guia saiba onde ela está, mas tanto ele como a doutora estão aprisionados pela mentalidade do sítio. Acreditam que o mundo está contra eles.

Original aqui

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