Opinião

Uma nova auditoria para distrair o povo

Leão Serva
Na semana passada a Prefeitura de São Paulo anunciou o resultado de uma auditoria que demorou quase um ano e meio para avaliar a gestão do sistema de transportes coletivos da cidade de São Paulo. Imediatamente a secretaria de Transportes anunciou que vai contratar uma nova auditoria, desta vez para estabelecer "origem e destino" dos usuários dos ônibus da cidade.

A medida só servirá para distrair a opinião pública e adiar o início da concorrência que vai iniciar a reorganização do sistema de transportes coletivos do município. Uma boa quantidade de dinheiro público será gasta desnecessariamente, uma empresa de auditoria receberá para fazer um trabalho irrelevante e o prazo de junho de 2015 para as conclusões do trabalho não será cumprido, como não foi o tempo estimado para a Ernst Young terminar o seu.

Ao final, talvez daqui a um ano, diante do cenário político e econômico, a Prefeitura poderá escolher entre adiar novamente a licitação, diante da iminência do ano eleitoral, ou, moralmente pior, poderá tentar repetir o feitiço de 2004, quando lançou o bilhete único seis meses antes da eleição, com imenso impacto positivo para a imagem da prefeita Marta Suplicy e graves defeitos estruturais atribuídos à pressa da implantação.

A mágica de 2004 custou caro aos cofres públicos. O melhor exemplo da improvisação foi o fato de que o contrato assinado entre as empresas ganhadoras e a Prefeitura tinha um adendo (chamado algo como "anexo para a fase de transição") com termos e medidas que não estavam previstos no edital da concorrência e ocupavam mais páginas do que o contrato licitado em si...

As inúmeras fraudes (como a famosa "janelinha") criadas imediatamente por usuários e malandros eram fruto da pressa com que o sistema foi implantado, sem uma análise atenta das fragilidades. O coração do sistema de totalização das passagens, preparado pela multinacional Microsoft, não estava pronto na inauguração do Bilhete Único. É por isso que o sistema concebido para ser totalmente hitec conviveu por muito tempo com um controle manual de saídas, completamente afeito a fraudes, como se viu agora.

Quando anunciou a nova licitação do sistema logo depois de tomar posse, o Prefeito Haddad e o secretario Jilmar Tatto puseram a mão em um vespeiro do qual devem ter se arrependido em seguida. Por isso o anúncio agora, ao final do segundo ano da administração, de uma nova auditoria para levantar dados que já estão nos computadores da SPTrans.

Embora seja popularmente chamada de Pesquisa Origem e Destino "do Metrô", o levantamento feito de dez em dez anos pela secretaria estadual de Transportes é público e envolve diversas órgãos, desde logo do município de São Paulo. Além disso, depois de plenamente implantado o bilhete único permite saber exatamente a origem e o destino de todos os usuários do sistema de ônibus de São Paulo, não como uma pesquisa por amostragem, mas como um resultado objetivo. Se o prefeito quiser, pode saber exatamente que roteiro faz diariamente o senhor José da Silva e qualquer um dos mais de 4 milhões dos usuários do bilhete único.

Por isso, declaro para os devidos fins que vou constituir uma empresa de auditoria, chamada DataLion, que fará a auditoria anunciada esta semana pelo valor de R$ 30,00 (custo do motoboy para pegar o contrato e devolver assinado) e no prazo de duas semanas, aproveitando o período de Natal. Como dizia nesta Folha o falecido colunista Tarso de Castro, "cheques para a Redação"!

Original aqui

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