Opinião

O petróleo mais barato

O ESTADO DE S.PAULO
A brusca queda da cotação do petróleo tende a aliviar as perdas da Petrobrás decorrentes do estrito controle, pelo governo, do preço da gasolina nas bombas, mas não será suficiente para compensar os prejuízos que a estatal acumula há anos na área de abastecimento e, ao longo do tempo, prejudicará seriamente sua capacidade de investimentos, em especial no pré-sal. A queda dos preços é notável. Nos últimos dias, o preço do barril do petróleo tipo Brent negociado em Londres caiu mais de 10%; nos últimos três meses, a queda foi de mais de 20%, da faixa de US$ 110 para US$ 85 o barril.

A fragilidade da atividade econômica mundial, que tende a se acentuar e se estender pelo menos até 2015, nas projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) - a instituição reviu de 3,4% para 3,3% a projeção do crescimento da economia mundial neste ano e de 4% para 3,8% no próximo -, já vinha arrastando para baixo o preço do petróleo. O contínuo crescimento da produção americana de petróleo, graças aos campos do Alasca, e as imensas possibilidades de produção de gás e petróleo de xisto igualmente vêm forçando a baixa do petróleo.

Fatores conjunturais aceleraram a queda. Ao prever o enfraquecimento da demanda mundial, o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado na terça-feira, fez cair mais a cotação do petróleo, que atingiu seu menor nível desde junho de 2012. Na quinta-feira, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou que os estoques de petróleo bruto no país aumentaram 8,92 milhões de barris na semana encerrada em 10 de outubro, o quádruplo do que esperavam os analistas (aumento de 2,2 milhões de barris).

No Brasil, analistas do mercado financeiro calculam que, com a cotação atual do petróleo e o dólar na faixa em que tem oscilado nos últimos dias, não há mais defasagem entre o preço da gasolina no mercado doméstico e o predominante no exterior. É uma boa notícia para os consumidores, pois desaparecem as pressões para o aumento do combustível, e sobretudo para a Petrobrás.

Como não aumentou a capacidade de refino da empresa nos últimos anos, período em que o consumo interno cresceu em razão dos fortes estímulos do governo à venda de automóveis, a estatal passou a comprar no exterior a gasolina necessária para atender à demanda doméstica. Mas compra combustível refinado ao preço internacional, mais alto do que o valor cobrado do consumidor nos postos, pois o governo vem segurando o preço da gasolina para evitar pressões maiores sobre a inflação. Por isso, a área de abastecimento da Petrobrás acumula prejuízos bilionários nos últimos anos. Na situação atual, a conta fecha, mas não compensa as perdas passadas.

Uma das causas da estagnação da capacidade de refino da estatal foi o corte dos investimentos nessa área para que mais recursos pudessem ser aplicados na área de exploração e produção, especialmente no pré-sal, pois este é um projeto de grande interesse político do governo do PT.

A cotação atual, de acordo com as contas da Petrobrás, não afeta sua rentabilidade, pois é suficiente para cobrir os custos de produção, transporte e fiscais do petróleo que extrai. No entanto, se o preço do petróleo se mantiver no nível atual por muito tempo, os investimentos da Petrobrás, em exploração ou em refino, poderão ser fortemente afetados.

O plano de negócios da estatal para o período 2014-2018 prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões, sobretudo no pré-sal. Mas, para estimar o custo financeiro dos investimentos nestes cinco anos e considerá-lo viável, a Petrobrás utilizou como parâmetro o preço do petróleo em US$ 105 neste ano, valor que cairia para US$ 100 em 2017. De 2018 a 2030, o valor básico seria de US$ 95.

Se a cotação ficar abaixo dos valores estimados ou se sua produção não alcançar os volumes previstos, a Petrobrás terá de rever o programa de investimentos, pois seu fluxo de caixa será insuficiente para sustentá-lo nas condições previstas. Cortará investimentos ou, se não o fizer, terá de descobrir uma nova fonte para financiá-los.

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