Opinião

Mais rigor no Enem

O ESTADO DE S.PAULO
A revelação, feita pelo Estado graças à Lei de Acesso à Informação, de que houve um número expressivo de examinadores despreparados na correção das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 é motivo de apreensão. Como a prova foi convertida pelo Ministério da Educação (MEC) em processo seletivo das universidades federais, sob a justificativa de democratizar o acesso ao ensino superior público, qualquer problema nas correções põe em risco a credibilidade do sistema.

Há dois anos, os critérios de correção do Enem foram questionados por especialistas em educação, depois da descoberta de que uma redação reproduzindo uma receita de macarrão instantâneo e outra transcrevendo o hino de um clube de futebol haviam sido aprovadas pelos examinadores. Diante da repercussão negativa, o MEC alterou os critérios de correção, montou uma força-tarefa para garantir mais segurança e objetividade nas avaliações e determinou que as redações deveriam ser anuladas automaticamente caso apresentassem "parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto".

As redações do Enem são avaliadas por profissionais da área de Letras, com formação em Língua Portuguesa, que recebem R$ 3,61 por prova corrigida. Cada redação é examinada por dois corretores independentes, e um não tem conhecimento da nota atribuída pelo outro. Uma vez escolhidos pelo órgão encarregado de aplicar o Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os corretores têm de passar por um processo de treinamento e capacitação, num total de 136 horas, compreendendo módulos presenciais e a distância. Nesse processo, eles se submetem a uma prova com cem questões, analisam redações diferentes e são obrigados a escrever um texto como se fossem alunos do ensino médio.

Também são monitorados durante o processo de correção por coordenadores e supervisores, que verificam se eles dão notas excessivamente altas ou muito baixas e se são lentos ou rápidos demais nas correções. Os avaliadores são excluídos automaticamente quando obtêm uma nota de desempenho inferior a 5, numa escala de 0 a 10. Caso fiquem entre 5 e 7, têm duas oportunidades para se recuperarem. Na terceira vez em que a nota for inferior a 7, são excluídos e as redações por eles já corrigidas têm de ser revistas.

Para fiscalizar os avaliadores, o Inep desenvolveu uma estratégia: de cada lote de 50 redações que têm de corrigir, há uma excelente redação - a chamada "redação de ouro" -, já examinada pela equipe de especialistas do órgão, e uma segunda redação - conhecida como "redação múltipla" -, que também foi submetida a vários outros corretores. A estratégia permite aos supervisores e coordenadores do órgão verificarem equívocos e desvios cometidos pelos avaliadores nas correções do lote. "Cito a Bíblia: 'Pelos teus frutos te conhecerei'. Só posso saber se um avaliador corrige bem quando produz resultados adequados", diz o estatístico José Francisco Soares, que assumiu a presidência do Inep há seis meses.

Segundo as informações obtidos pelo Estado, dos 7.121 avaliadores contratados para corrigir as redações no Enem do ano passado, 845 - o equivalente a 12% do total - tiveram de ser afastados. O porcentual vem aumentando de forma preocupante. No Enem de 2011, foram excluídos 277 dos 3.188 examinadores - cerca de 8,7% do total. Na prova de 2012, dos 5.558 corretores selecionados, apenas 52 - ou 0,9% - foram reprovados. "Tínhamos um monitoramento mais leniente. Agora, temos um monitoramento mais duro. Só corrige redação no Enem quem tiver sido certificado. Dá segurança ter alguém que é excelente para corrigir, dar orientações e acompanhar todo o processo", afirma o presidente do Inep, justificando o aumento do número de examinadores reprovados.

Com o aumento do rigor na seleção e na fiscalização dos avaliadores, resta esperar que o Enem não venha mais a ser desmoralizado com a aprovação de receitas de macarrão e hinos de times de futebol nas provas de redação.

Original aqui

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