Opinião

A boa-nova do Fed

O ESTADO DE S.PAULO
Boa notícia para o governo brasileiro, já assombrado pelo mau desempenho do comércio exterior, por pressões na área cambial e pelo risco de fuga de capitais estrangeiros: o novo aumento de juros nos Estados Unidos, mais um fator de perturbação, ainda poderá demorar muito tempo. A decisão dependerá da combinação de vários fatores - recuperação mais firme da economia, com normalização do mercado de emprego, aumento da inflação e das expectativas inflacionárias e maior avanço da reforma financeira. O recado foi transmitido aos senadores em Washington, ontem, pela presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, Janet Yellen.

Não se pode fixar uma data, com segurança, para a próxima alteração dos juros, porque isso dependerá da evolução conjunta de todos aqueles indicadores. Se tudo correr muito bem, a mudança poderá ocorrer no próximo ano, poucos meses depois de encerrada a atual fase de estímulos monetários (emissão de dinheiro por meio do recolhimento de títulos federais no mercado). Essa fase poderá terminar em outubro, segundo estimativa divulgada há poucos dias e reafirmada pela presidente do Fed, mas também isso dependerá das condições econômicas nos próximos meses.

De acordo com Yellen, a economia tem melhorado e o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deve ter sido causado, principalmente, por fatores transitórios. O inverno excepcionalmente longo e severo tem sido citado como uma das causas. Mas a recuperação, ressaltou a presidente do Fed, é incompleta. Embora o desemprego tenha continuado em queda e chegado a 6,1% da força de trabalho, permanece acima do nível normal de longo prazo, estimado por participantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Esse comitê, semelhante ao Copom brasileiro, é responsável pela orientação da política monetária.

O pronunciamento de Yellen foi classificado como ambíguo por fontes do mercado financeiro. É uma crítica um tanto gratuita. Autoridades monetárias devem, de fato, comunicar-se com a máxima clareza e fornecer as melhores indicações para a operação dos vários mercados, mas a presidente do Fed parece ter sido tão explícita quanto poderia ser. Não é sua função indicar data e hora para as próximas decisões sobre juros, nem isso teria sentido, quando ainda há muita incerteza quanto à evolução dos principais indicadores nos próximos meses. Há pouca dúvida sobre a tendência de melhora da economia americana, mas as decisões do comitê, acentuou Yellen, serão baseadas numa avaliação geral e segura, tanto quanto possível, do quadro da produção, do emprego, dos preços e do estado do sistema financeiro.

Não há nenhuma ambiguidade nessa mensagem. Ao contrário, há uma clara referência à disposição de cumprir o duplo mandato do Fed - garantir a melhor combinação entre emprego e estabilidade de preços.

Os mercados haviam reagido com alguma ansiedade à comunicação anterior do Fed, quando se mencionou o mês de outubro como provável ponto de encerramento das compras mensais de títulos. A perspectiva de aumento de juros em pouco tempo, a partir daí, excitou a especulação. Mas a distância entre os dois fatos poderá ser maior, segundo Yellen.

Se esse for o caso, e se o mercado entender dessa forma, tanto melhor para o Brasil. Com a perspectiva de mais um déficit em conta corrente em torno de US$ 80 bilhões, neste ano, qualquer novo aperto nas condições internacionais de financiamento será ruim para o País. Já se prevê um investimento estrangeiro direto na altura de US$ 63 bilhões, insuficiente, portanto, para cobrir aquele déficit. A cobertura dependerá, como em 2013, de outros tipos de capitais, menos seguros, mais especulativos e menos comprometidos com o fortalecimento do setor produtivo. Mas o fechamento das contas externas de 2014 é apenas o desafio mais fácil, embora mais próximo. O fortalecimento efetivo do setor externo dependerá de políticas de longo alcance para tornar a economia mais produtiva e com melhor atuação internacional. Isso exige muito mais que soluções improvisadas.

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