Opinião

Mais um fracasso do governo

O Estado de S.Paulo
A inépcia administrativa está comprometendo o programa Ciência sem Fronteiras, que é a mais importante iniciativa do governo federal no campo da educação. Lançado em 2011, ele foi planejado para conceder 101 mil bolsas a estudantes brasileiros interessados em fazer iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado em universidades conceituadas de países desenvolvidos.

Até agora, já foram concedidas 61 mil bolsas. Contudo, por erros elementares no processo seletivo, muitos bolsistas foram para o exterior sem ter proficiência no idioma em que as atividades didáticas seriam realizadas e as provas seriam aplicadas. O problema é mais grave entre os alunos escolhidos para estudar na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália. Por não falar inglês, um contingente expressivo não conseguiu acompanhar os cursos nos quais se matriculou. Também há bolsistas que, tendo demorado muito tempo para aprender inglês, não se prepararam suficientemente e não foram aprovados nos exames seletivos das universidades e centros de pesquisa que escolheram.

Para evitar que esse problema afete a imagem do governo num ano eleitoral, os responsáveis pelo Ciência sem Fronteiras já determinaram o retorno de pelo menos 110 bolsistas do Canadá e da Austrália. Apesar de terem chegado a esses países em setembro de 2013, até agora - sete meses depois - não conseguiram proficiência em inglês. Além de terem recebido passagens aéreas e seguro de saúde, cada um desses bolsistas recebeu cerca de US$ 12 mil para alojamento e alimentação.

Esse investimento não retornará ao País em forma de capacitação profissional e qualificação acadêmica com padrão de excelência, que são os principais objetivos do Ciência sem Fronteiras, cujas contas já estão desequilibradas. Por causa da sucessão de erros administrativos do governo, os gastos com esses estudantes - que voltam para o Brasil sem terem participado de qualquer curso acadêmico - serão contabilizados como prejuízo para os cofres públicos.

Originariamente, os 110 estudantes que receberam aviso para voltar para o Brasil tinham sido aprovados para estudar em universidades portuguesas. No entanto, como o programa Ciência sem Fronteiras foi concebido para propiciar um intercâmbio acadêmico e cultural com países mais desenvolvidos do que Portugal, o governo - mesmo consciente de que não falavam inglês - os remanejou para instituições de ensino no Canadá e na Austrália.

Embora os cálculos ainda não tenham sido concluídos, pois incluem taxas bancárias, variações cambiais e aumento do IOF, o prejuízo do governo será vultoso, uma vez que 3.445 estudantes matriculados em universidades portuguesas viajaram para o Canadá e a Austrália sem saber inglês. Encarregada de atuar como braço executivo do Ciência sem Fronteiras, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), ainda não sabe quantos bolsistas terão de voltar. O órgão estabeleceu um prazo para que aprendessem inglês, antes de ingressar em alguma universidade canadense ou australiana.

Os estudantes que estão sendo obrigados a voltar alegam que a Capes não respeitou esse prazo. Acusam o órgão de ter alterado o calendário dos testes de proficiência. Afirmam que várias provas de certificação marcadas para o fim de março e início de abril foram antecipadas para fevereiro. Reclamam dos problemas pessoais que terão de enfrentar, pois não aproveitaram a experiência no exterior e ainda terão de fazer mais um ano de graduação no Brasil, para compensar o período em que ficaram fora. E, por fim, reivindicam financiamento adicional de pelo menos seis meses, para que possam fazer algum curso acadêmico. Em nota, a Capes afirmou que os prazos foram respeitados e que os bolsistas foram informados das datas dos testes em setembro do ano passado.

Esse é mais um fracasso de um governo que tem na incompetência administrativa a sua principal marca.

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