Opinião

A pauta da recuperação global

O Estado de S.Paulo
A economia mundial deve continuar em recuperação no próximo ano, com os Estados Unidos, a maior potência, crescendo perto de 3% e funcionando outra vez como um dos principais motores do crescimento. A economia número dois, a China, continuará avançando bem mais velozmente que a média mundial, com taxa próxima de 7,5%. Mas a retomada americana e a reação japonesa tornarão mais eficiente a difusão da prosperidade, segundo as projeções das mais importantes entidades multilaterais, incluídos o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas, apesar da melhora do quadro, "a recuperação global tem sido desigual e mais contida do que se esperava", disse na quinta-feira a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ao apresentar o programa de trabalho da instituição para 2014.

Será necessário, segundo ela, implementar políticas mais ambiciosas para passar da estabilização ao "crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo". O programa inclui estratégias e recomendações para t0dos os grandes grupos - economias avançadas, emergentes e pobres, países árabes em transição e Estados frágeis e pequenos. O Fundo poderá contribuir com financiamentos, como tem feito com associados europeus e de outras regiões, e também com orientação, assistência técnica e recursos em condições especialmente favorecidas, como tem sido a ajuda aos mais pobres.

Para os avançados a recomendação continua sendo a de combinações políticas mais favoráveis a uma recuperação segura. Isso inclui um ajuste fiscal mais propício ao crescimento, com mais folga no início e maior aperto na fase final. Inclui também muito cuidado no abandono gradual das políticas monetárias frouxas, dominantes nos últimos anos - recomendação válida para autoridades americanas e europeias, mas especialmente para as primeiras, neste momento.

Os Estados Unidos já começam a se mover na direção sugerida pelo FMI. Depois de um longo impasse, a Câmara de Representantes aprovou uma proposta de orçamento com mais espaço para estímulos federais à reativação econômica. A fórmula aprovada atende apenas em parte à pretensão do Executivo, mas é muito menos restritiva do que vinham defendendo as alas mais conservadoras do Partido Republicano. O próximo passo, a votação no Senado, deve ser facilitado pela maioria democrata.

Mesmo com o aperto orçamentário resultante do impasse entre governo e oposição, a economia americana vinha avançando bem mais velozmente que a europeia. O desemprego tem diminuído nos Estados Unidos e chegou a 7% em novembro. Na zona do euro, caiu ligeiramente de 12,2% para 12,1% em outubro, mas a desocupação dos jovens continua superior a 24%. Apesar do cenário ainda muito ruim no mercado de trabalho, a maior parte da Europa ocidental começa a vencer a recessão e, pelas projeções disponíveis, deve continuar nesse rumo em 2014. Há enormes desafios à frente, incluída a reforma do sistema financeiro, mas os dados são animadores.

Para os emergentes, a recomendação, por enquanto, é de levar adiante os esforços de consolidação fiscal e de reformas para elevar o potencial de crescimento e garantir uma expansão segura nos próximos anos. Os governos devem adotar políticas para tornar as economias menos vulneráveis a mudanças no mercado financeiro - um risco associado, a curto prazo, ao esperado aperto da política monetária americana. Menos crédito disponível e juros consequentemente mais altos compõem o cenário esperado.

A reativação global prevista para 2014 e 2015, embora modesta, abrirá boas oportunidades para países governados com bom senso. Para o Brasil, as perspectivas, por enquanto, são preocupantes. Com inflação superior à média dos emergentes, baixo ritmo de crescimento, contas externas em deterioração e política fiscal sem credibilidade, o País deveria adotar sem demora o receituário de reformas e de reforço dos fundamentos econômicos. Falta o governo reconhecer de fato os problemas e começar a agir.

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