Opinião

Fora do abismo, mas com riscos

O Estado de S.Paulo
Mais uma vez a economia americana foi salva do desastre no último instante, com a aprovação pela Câmara de Representantes, às 11 horas da noite de terça-feira, de um acordo contra o abismo fiscal. Na madrugada do mesmo dia os senadores haviam aprovado as medidas para evitar um arrocho orçamentário suficiente para jogar o país de novo na recessão e dificultar a superação da crise global. Na Câmara, dominada pelos republicanos, a resistência da oposição foi muito mais forte e a insegurança predominou até pouco antes da votação. O resultado final foi recebido com manifestações de alívio em todo o mundo e as bolsas fecharam os pregões com grandes altas. O susto passou, mas nem todos os riscos foram afastados e o presidente Barack Obama ainda terá de enfrentar novas negociações com os oposicionistas. A dívida federal chegou a US$ 16,4 trilhões na virada do ano, bateu novamente no teto e será preciso mais uma vez elevar seu limite. A discussão desse tema será um dos pontos principais da agenda presidencial nos próximos tempos.

A economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalente a 3,1% ao ano. Foi um desempenho mais que invejável para a maior parte dos países desenvolvidos e até para um dos grandes emergentes, o Brasil. De outubro para novembro o desemprego caiu para 7,7% da força de trabalho, enquanto continuou em alta na Europa. Não se sabe ainda se a produção terá perdido impulso nos últimos três meses, nos Estados Unidos, mas indicadores do setor industrial têm sido positivos. Todos têm, objetivamente, excelentes motivos para torcer pela recuperação do mais importante mercado consumidor. Com a reativação americana, a economia global será de novo puxada por mais um potente motor.

Mas o desafio enfrentado pelo presidente Barack Obama seria muito menos assustador se fosse apenas econômico. A economia americana ainda é uma das mais flexíveis e criativas do mundo e sua capacidade de recuperação foi muitas vezes comprovada. Mas o problema é fundamentalmente político, porque as bandeiras dos conservadores incluem cortes em programas sociais e barreiras a qualquer elevação de impostos para as classes de rendas mais altas.

Para conseguir o acordo e evitar a queda no abismo, o presidente foi obrigado a ceder em pontos importantes. Desistiu de conseguir um aumento de imposto para os contribuintes com renda individual acima de US$ 200 mil por ano ou casais com ganho superior a US$ 250 mil. Teve de aceitar um teto mais alto - US$ 400 mil para solteiros e US$ 450 mil para casais.

Os republicanos também cederam, porque combatiam qualquer nova tributação desse tipo, mas tiveram uma vitória parcial. Foram preservados benefícios fiscais para bolsas de estudos, pesquisas e atenção às crianças, assim como o seguro, por mais um ano, para 2 milhões de desempregados. Mas Obama foi incapaz de evitar a elevação do desconto sobre o salário. Além disso, ainda será necessária uma negociação para evitar um corte automático de gastos de US$ 110 bilhões dentro de dois meses.

Na Europa, o crescimento econômico deve continuar lento em 2013 e o desemprego, elevado, Houve sinais de melhora em algumas economias e até de algum avanço do governo grego na redução do déficit fiscal, mas o risco de mais recessão permanece. Uma das novidades mais importantes do fim do ano foi o acordo entre os governos da zona do euro em torno de uma política bancária centralizada. O Banco Central Europeu ficará encarregado de fiscalizar e disciplinar as instituições mais importantes. Isso pode contribuir para a separação dos problemas dos bancos e dos Tesouros nacionais. Mas faltam outras medidas para impulsionar as economias da região.

A China deve reagir, depois de alguma desaceleração em 2012, mas seu crescimento provavelmente será mais lento que na década anterior. Ainda assim, continuará sendo o principal foco de dinamismo internacional e um grande mercado para as commodities brasileiras. Um cenário melhor dependerá, nos próximos meses, principalmente do sucesso político do presidente Barack Obama e de novos avanços da economia americana.

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