Opinião

O custo do gás natural

O Estado de S.Paulo
O Brasil nunca precisou tanto de gás natural. Com a situação crítica dos reservatórios das hidrelétricas em todas as regiões do País, a saída para evitar o racionamento tem sido o uso intenso da energia gerada por termoelétricas movidas a gás natural, a diesel ou a óleo combustível. Ocorre que, com o rigoroso inverno no Hemisfério Norte e altas temperaturas registradas no Brasil e outros países tropicais, o consumo de gás natural vem em constante crescimento, pressionando os preços, especialmente no mercado spot, que a Petrobrás utiliza para adquirir gás natural liquefeito (GNL). O produto está cotado hoje em US$ 18 por milhão de BTUs (unidade térmica de referência), enquanto a Petrobrás, por contratos firmados de 2006 a 2008, vende a US$ 12 por milhão de BTUs às usinas térmicas, o que ocasiona à estatal um prejuízo de US$ 6 por milhão de BTUs, segundo os cálculos da consultoria Gas Energy (Estado, 10/1). Isso representa um prejuízo de cerca de R$ 240 milhões por mês à estatal. A Petrobrás não confirma a estimativa feita pela consultoria, mas não revela quanto gasta com GNL.

O fato é que, com a produção nacional de gás natural estacionada em 70 milhões de m³ por dia, as importações do produto tendem a aumentar com a demanda das hidrelétricas, além do fornecimento à indústria. O País é abastecido pelo gasoduto Bolívia-Brasil e pelo GNL importado, que precisa ser reprocessado antes do consumo, o que onera seu custo.

As importações de gasolina foram recordes em 2012, tendo custado US$ 2,851 bilhões de janeiro a novembro, 125,89% a mais que no mesmo período de 2011, segundo a Secex. Verifica-se, no entanto, que o País despende ainda mais na importação de gás natural, que custou US$ 3,006 bilhões em 11 meses de 2012. Além disso, a estatal terá de importar mais diesel e óleo combustível ou reduzir as suas exportações desses produtos. No período janeiro-novembro de 2012, a Petrobrás importou óleos combustíveis (diesel, "fuel oil", etc.), no valor de US$ 6,44 bilhões e exportou US$ 4,62 bilhões, deixando esse item um saldo negativo de US$ 1,82 bilhão, o que também tende a crescer.

Se não se espera que a demanda arrefeça nos próximos meses na Europa e nos EUA, ela não deverá cair também no Brasil. Isso porque o Operador Nacional do Sistema (ONS) pretende manter as térmicas em operação até os reservatórios se encherem, de modo a permitir que na estação da seca fiquem com 68% de sua capacidade.

Ainda que chova substancialmente, neste e nos próximos meses, a demanda de GNL continuará grande porque o governo decidiu que as primeiras termoelétricas a serem desligadas serão aquelas acionadas a diesel e óleo combustível, ou seja, as mais poluentes. As usinas movidas a gás natural permanecerão em operação por tempo indeterminado.

O aumento da demanda por gás já causa certa apreensão entre os empresários. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro chegou a enviar comunicado a seus associados os alertando quanto ao risco de desabastecimento de gás natural e de energia elétrica no início de 2013, temendo que a Petrobrás transfira o gás natural importado para as termoelétricas, em detrimento da indústria. Essa hipótese está afastada, segundo declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Marco Tavares, da Gas Energy, comentou que a Petrobrás estaria encontrando dificuldades para comprar cargas de GNL em um período em que a demanda está muito aquecida. Não tendo firmado contratos a mais longo prazo para aquisição de gás natural, a estatal está sujeita às incertezas e à volatilidade do mercado spot, disse ele. Noticiário mais recente da Reuters, porém, dá conta de que houve uma alta significativa de preços, devida principalmente à acumulação de estoques, mas não se espera que haja redução de oferta no mercado internacional.

Seja como for, a importação de derivados de petróleo para abastecer as termoelétricas será também um fator de forte pressão sobre a balança comercial em 2013 - e sobre os resultados da Petrobrás, que têm sido muito ruins.

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