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Pitonisas brasilienses

Sidney Borges

Quando do lançamento do Plano Real que deu estabilidade à economia do Brasil e criou as bases do desenvolvimento e da atenuação, ainda que modesta, da brutal desigualdade que nos assola, o atual ministro da fazenda, Guido Mantega, grande expert, disse o seguinte:

“Os arquitetos do real não pouparam sua imaginação para lançar velhas ideias com aparência de novas. (…) Chegaram ao ponto de reinventar os réis ou reais, uma nova moeda fantasiada do dólar e garantida por um lastro que não exerce nenhum papel prático, uma vez que o real não é conversível, a não ser o de dar a impressão de que o real vale tanto quanto a moeda norte-americana”
“Todo esse barulho para quê? Para vestir com roupagens sofisticadas e muitos truques de ilusão, mais um ajuste tradicional, calcado no corte de gastos sociais, numa contração dos salários, num congelamento do câmbio e outros ativos e, sobretudo, num forte aperto monetário com taxas de juros estratosféricas”
“A parte mais imaginativa do plano (…) revelou-se a mais perversa, porque passou a ideia de que os salários estavam sendo perfeitamente indexados e resguardados da inflação. Quando, na verdade, foram colocados em desvantagem (…) em relação a preços, tarifas e vários outros custos e ainda perderam os reajustes automáticos que a lei salarial lhes garantia”
“Os salários serão pagos em real, (…) uma moeda desindexada e totalmente vulnerável a corrosão inflacionária. (…) A regra de conversão dos salários pela média e dos preços, tarifas e outros custos pelo pico, matou dois coelhos de uma só cajadada. Reduziu preventivamente a demanda dos assalariados, que poderia aumentar com a queda brusca da inflação e comprimiu os custos salariais, dando uma folga para os preços”
“Vendeu-se a ideia de que o plano não utilizou o congelamento, quando, na verdade, congelou o câmbio, tarifas, alugueis e contratos. Só não congelou mesmo os preços e deixou os salários no limbo de um semicongelamento, com o ônus de correr atrás do prejuízo que será causado pela inflação do real”
“O real é um jogo de aparências, que pode durar enquanto não ficar evidente que as contas do governo não vão fechar por causa dos juros altos, que o mercado sozinho não é capaz de conter os preços dos oligopólios sem uma coordenação das expectativas por parte do governo, que os salários não manterão o poder aquisitivo por muito tempo, que o real não vale tanto quanto o dólar”
“As remarcações preventivas dos preços, junto com os congelamentos, permitirão uma inflação moderada em julho e, talvez, uma ainda menor em agosto. (…) A questão é saber em quanto tempo o grosso da população irá perceber que uma inflação moderada por si só, acompanhada por um aperto monetário e recessão, não melhora sua situação, não cria empregos e, na ausência de uma lei salarial e correções automáticas, pode ser tão deletéria quanto uma inflação de 30% a 40% com indexação”.
O cara diz por aí que entende da coisa. Errou um pouco, mas quem não erra?

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