Opinião

Por que torcer por Obama

O Estado de S.Paulo
É claro que nem tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, ao contrário do que pensava o primeiro embaixador do País em Washington, sob o regime militar, Juracy Magalhães. Mas será bom para o Brasil - e para o mundo - se os americanos reelegerem hoje o presidente democrata Barack Obama. Quanto mais não seja porque a alternativa - a ida à Casa Branca do candidato republicano Mitt Romney - dificilmente deixará de empurrar os EUA a um retrocesso econômico que será sentido nos quatro cantos do globo. Sem falar no ressurgimento do militarismo na política externa, o que se pode antecipar dado o primarismo das posições do desafiante em relações internacionais e a sua dependência dos mesmos gurus neoconservadores que atiçaram George W. Bush para a aventura da guerra no Iraque. Uma vitória de Romney de certo será saudada por Israel como o sinal verde de Washington para deter, à bomba, o programa nuclear iraniano.

O ex-governador de Massachusetts, onde implantou a reforma do sistema de saúde que inspirou a de Obama, apresentou-se como moderado às prévias da legenda, apenas para guinar à direita, onde se aglomeravam todos os seus rivais, quando, com espantoso atraso, descobriu a pólvora: o fim do centrismo na vida partidária. A radicalização republicana começou com a chamada revolução conservadora de 1968 e foi levada literalmente ao extremo com a hegemonia conquistada pelo movimento Tea Party, com seu horror ao Estado e às políticas sociais, aliado aos ultramontanos religiosos que abominam a extensão dos direitos civis aos homossexuais e pregam a revogação do direito ao aborto. Passando a fazer coro com os pregadores do privatismo, da tributação leniente com os mais ricos e da amputação do gasto público, Romney invocou ainda a experiência administrativa e a condição de empresário bem-sucedido do setor financeiro para arrebatar a candidatura.

Indicado, tratou de abrandar a sua defesa de uma política econômica darwinista que, levada à prática, mergulhará os EUA numa crise talvez ainda pior do que a de 2008. Mas o verdadeiro Romney se deu a conhecer em um reservado jantar de arrecadação de fundos a US$ 50 mil por cabeça, ainda em maio. Ali confessou que não se importava com 47% dos concidadãos que, segundo ele, não pagam Imposto de Renda e vivem do Estado.

De seu lado, o Obama da Casa Branca pouco conserva do candidato que galvanizou a América e o mundo com sua trajetória, carisma e visão de mudança. Na realidade, Washington é que mudou Obama - e não o contrário. Ainda assim ele vem resgatando o país da recessão. Embora a taxa de desemprego continue a flertar com a marca de 8%, a economia nacional começou a se recuperar já no quinto mês da administração democrata e, desde então, só não cresceu mais do que a alemã, entre os país ricos.

Obama é criticado por não ter feito mais. Como se fosse pouco implementar um pacote de estímulo econômico da ordem de US$ 830 bilhões, prevenir o desmanche da indústria automobilística, criar e conservar 2,5 milhões de postos de trabalho, reduzir o déficit público de 13,3% para 8,7% do PIB, aprovar um histórico plano de saúde para um país com 48,6 milhões de habitantes sem seguro médico-hospitalar e acabar com a guerra no Iraque. E isso diante de uma oposição feroz a ponto de o líder republicano na Câmara dos Representantes, John Andrew Boehner, ter dito em 2010 que a prioridade absoluta da legenda era assegurar que Obama fosse presidente de um mandato só. Podia ter acrescentado, como tantos de seus correligionários tentando disfarçar o racismo, que esse presidente "nasceu no Quênia", é "muçulmano enrustido", "socialista convicto" e "não compartilha dos valores americanos".

Quem prevalecerá hoje? Obama vence Romney na média das pesquisas sobre o colegiado de 538 delegados que afinal elegem os presidentes americanos. O democrata tem 201 votos firmes, ante os 191 de Romney. Os 146 duvidosos concentram-se em 11 dos 50 Estados cuja preferência varia de eleição para eleição. Naqueles, Obama está na dianteira em 9, incluindo Ohio, que desde 1964 "acerta" o vencedor. Mas as diferenças são estreitas - e, em muitas partes, os republicanos devem jogar bruto na boca de urna.

Original aqui

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