Livre pensar é só pensar...

Sobre proibições

Sidney Borges
Um dia Caetano Veloso cantou "É proibido proibir". Concordei. Proibições interferem na possibilidade do fazer. Na minha modesta opinião, cada um, desde que não incomode o vizinho, deve ir de encontro ao que lhe der na telha. Inclusive fumar. E também assistir a certos programas televisivos que considero baixaria, mas que minha tia de 85 anos adora. Tem gente querendo proibir o BBB-12. A atitude é assustadora. Proibir remete à Santa Inquisição que torturava em nome de Deus. Em 1966 fui contra as determinações do Tribunal do Santo Ofício ao ler um livro listado no "Index Librorum Prohibitorum". Minha avó ficou chocada ao descobrir em meu quarto a obra "anticlerical" de Stendhal, O Vermelho e o Negro. Só não fui excomungado por que comecei a leitura em maio e quando teminei, em julho, o Index já era, abolido que foi em 15 de junho. Ufa! Escapei do fogo eterno por semanas! Dias atrás escrevi sobre as maravilhas do controle remoto. Hoje reproduzo um texto do mestre Veríssimo que trata do mesmo tema. Enjoy it!

A arma

Luiz Fernando Veríssimo (original aqui)
Nessa discussão sobre baixarias na TV e a má qualidade generalizada do que vai ao ar, ninguém se lembra que toda casa brasileira — pelo menos toda casa brasileira com TV — tem uma arma eficaz de autodefesa. É uma arma poderosa. Com ela se cala a boca do político embromador e do apresentador gritão, se elimina o programa que choca ou desagrada e o troca por outro, se chega até, em casos extremos, a cortar a força do aparelho ofensivo e silenciá-lo, para sempre ou por algum tempo, para aprender. E tudo isto sem sair da poltrona.

O nome da arma é Controle Remoto. É movida a pilhas e cabe na palma da mão. Não é uma invenção muito antiga. (Sim, crianças, houve um tempo em que para ligar e desligar a TV ou mudar de canal você precisava sair do sofá e ir até lá. Inconcebível, eu sei.).

Mas minha neta começou a usar o controle remoto antes de começar a andar, e pelo menos duas gerações se criaram usando-o sem se dar conta da mágica que tinham nas mãos. O poder de mover as coisas à distância e comandar o mundo sem precisar sair do lugar é uma ambição humana desde as primeiras bruxas, mas as gerações que se criaram com ele usam o CR com a inconsciência de um cachorro brincando com uma bola de césio.

Se não se dão conta do seu poder mágico, muito menos se dão conta de que o CR é uma arma. Porque o CR também representa essa outra coisa potente que temos para nos defender das agressões da TV: o livre arbítrio. A capacidade de decidir por nós mesmos. De procurar uma alternativa, outro canal, ou o silêncio. Em vez de dizer "isto deveria ser proibido" e incentivar, indiretamente, a censura, e negar o direito dos outros de gostarem de porcaria, deveríamos exercer, soberanamente, a liberdade de escolha do nosso dedão.

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