Opinião

O ano-novo do governo

O Estado de S.Paulo
O Brasil terá no próximo ano mais crescimento econômico e menos inflação que em 2011, segundo o governo. As profecias oficiais são em geral otimistas em relação ao País, especialmente porque o cenário global deve continuar muito ruim. Mas há diferenças de tom. O troféu do otimismo vai para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele insiste na previsão de um crescimento econômico entre 4% e 5% em 2012, enquanto os economistas do Banco Central (BC) dão como provável um aumento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Eles concordam, no entanto, quanto a um detalhe bem menos animador: a inflação cairá até o meio do ano, voltará a subir e no começo de 2013 ainda estará acima do centro da meta, de 4,5%. No mercado financeiro, esse ponto foi interpretado como indicação de nova alta dos juros. Se houver um repique da alta de preços, será difícil evitar um aperto da política monetária.

Mas isso deve ficar para bem mais tarde. Segundo Mantega, a grande missão do governo em 2012 será reduzir o custo do crédito. Não contou como será cumprida essa missão, mas o BC já anunciou pelo menos uma providência para irrigar o mercado. Deixará de remunerar 36% do recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo. O objetivo é estimular os grandes bancos a repassar pelo menos parte desse dinheiro aos pequenos. Se der tudo certo, haverá maior volume de recursos para crédito. Mas será preciso muito mais para equiparar o custo do crédito aos padrões internacionais.

De toda forma, tanto os economistas do BC quanto o ministro da Fazenda apostam na manutenção de um elevado nível de emprego como fator favorável ao consumo. Em novembro, o desemprego de 5,2% nas seis maiores áreas metropolitanas foi o mais baixo da pesquisa mensal iniciada em 2002. A construção civil deu uma contribuição importante para a sustentação do emprego e o setor deve continuar muito ativo em 2012. Segundo o BC, a construção deve crescer 5% no próximo ano - em ritmo igual ao previsto para o setor de extração mineral. Mas o crescimento da indústria de transformação deverá ficar em 3%. Será bem superior ao estimado para este ano (0,9%), mas, apesar disso, claramente insatisfatório. Afinal, esse é o segmento industrial mais importante para a geração de empregos de alta qualidade na maior parte do País e um dos canais mais eficientes para a absorção de tecnologia.

Há uma ligação entre o baixo crescimento previsto para o setor manufatureiro e a projeção de um ano medíocre para as contas externas. Segundo o BC, a exportação de bens e serviços aumentará 3%; a importação, 7%. Considerado somente o comércio de bens, os aumentos estimados são de 4,3% e 7%. A contribuição das contas externas para o PIB será novamente negativa. O superávit comercial diminuirá de US$ 28 bilhões (estimativa deste ano) para US$ 23 bilhões. Esse resultado refletirá, segundo o BC, a situação da demanda internacional e, de modo especial, a redução de preços das commodities. Mas seria importante ressaltar outro ponto: o comércio de manufaturados tem sido deficitário há anos e isso se deve principalmente às condições de competição. O câmbio é só parte do problema. Custos determinados fora das empresas (logística, impostos, etc.) são os principais fatores, mas o País continua sem uma política realista para a eliminação desses entraves.

Segundo o BC, mais uma vez a receita de impostos sobre produtos aumentará mais que o valor da produção. A preços básicos, isto é, sem os impostos, o PIB deverá crescer 3,4%, 1 ponto menos que o PIB a preços de mercado. A diferença resulta do acréscimo do valor dos tributos, com expansão estimada em 4,2%. Isto é parte do problema da competitividade. O ministro Mantega mostra-se preocupado com a sustentação do consumo. Deveria dar maior atenção, para variar, às condições da oferta interna. Isso serviria tanto para equilibrar a concorrência quanto para tornar o controle da inflação menos dependente das importações. Protecionismo não resolve. Pode sustentar empregos durante algum tempo, mas não cria empregos a longo prazo, não estimula ganhos de produtividade e de qualidade e acaba prejudicando o consumidor.

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