Pitacos filosóficos do Zé

Tio Clê, santista de coração

José Ronaldo dos Santos
Tio Clemente estava sempre pensativo, apreciando momentos e detalhes. Somente quando o time do Santos jogava é que ele abria exceções ao seu jeito. Era santista de ter casco de tartaruga pintado na parede, flâmulas por todo lado, fotografia do time de Pelé etc. Era um bom homem. Talvez seja por isso que tenha morrido tão tranquilamente (dormiu e não acordou mais).

Desse tio, nos muitos momentos de prosa em sua aconchegante cozinha, a gente escutava suas lições repletas de moral. Hoje digo que eram reflexões filosóficas. Veja isto: “ A vida da gente [homem] não tem mais significado do que a de outro animal; ela somente é mais difícil porque nós continuamos crescendo [evoluindo]”. Ah! Que verdade!

Não tem como não me lembrar do meu finado tio, descendente de mouros e africanos, sobretudo nos dias atuais quando é notória a humanidade se infernizando com cartões de crédito, telefone celular, transações bancárias, sede de lucros infinitos e tantas outras evoluções tecnológicas e científicas.

Colocando o ter antes do ser, o homem deixa de investir em coisas essenciais para gastar com supérfluos. Talvez isso explique, em parte, porque o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro esteja tão mal classificado (84ª posição). Meu colega Manolo, pior exemplo mais próximo, tem um aparelho de som potente, três carros, uma moto e mais alguns “bens importantes”, mas vive numa moradia que pode ser classificada como cortiço, nunca passeia com os filhos, “se alimenta roendo as unhas” etc. É logico que tal tipo de pessoa jamais vai se importar de viver num país que está entre as sete maiores economias do mundo, mas se ombreia no IDH com países paupérrimos. Desconfio que também o meu tio, se vivesse hoje, faria “vista grossa” a tudo isso pensando apenas no Santos Futebol Clube e na disputa pelo título mundial.

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