A conferir...

Vendedores de milagres

Blog do Alon
O vetor político não deve imaginar que vai surgir do nada, do vácuo, aparecendo domingo pela manhã na porta de casa para tocar a campainha e oferecer um elixir milagroso. E que o comprador vai cair nessa

A política brasileira habituou-se a um método invertido. Em vez de os políticos terem a coragem de aparecer com a própria cara ao eleitor, procuram antes saber do que o eleitor gostaria, para daí assomarem como legítimos intérpretes do desejo popular.

Daí que liberais se transformem repentinamente em estatistas, e velhos intervencionistas subam ao palco para cantar as glórias do liberalismo. Claro que não assim escancarado. Sempre “traduzido”, para que “o povo entenda”.

Eis um problema dos partidos brasileiros.

Em vez de se oferecerem à sociedade como canais de acumulação e transmissão de visões a respeito das diferentes formas de organização política e social, reduzem-se a ajuntamentos de gente disposta a vestir qualquer máscara para tomar o poder.

Ou para manter o poder.

Uma vantagem competitiva do PT sobre os adversários ao longo dos anos de crescimento do partido foi ter desafiado essa lógica. Se bem que a recente força incontrastável do líder maior e as circunstâncias vão esmaecendo isso.

Partidos ficam fortes quando expressam organicamente o que uma parte (daí o nome) da sociedade acha que deve ser feito do país, ou do mundo.

E chegam ao poder quando essa parte vira maioria. Isso na democracia.

Mas é preciso haver alguma legitimidade. E o partido coloca o ovo em pé quando consegue se apresentar naturalmente como protagonista de uma onda histórica.

No Egito, a Fraternidade Muçulmana hibernou durante décadas até surgir a oportunidade. Após o esgotamento do modelo nacionalista-militar, o mundo árabe vê a ascensão do Islã como promessa de transformação social.

Se para o bem ou para o mal, a História dirá.

Mas o fato é que a FM está lá na hora certa, organizada em torno de suas ideias, propósitos e ações. Assim como, por exemplo, os comunistas e socialistas portugueses quando eclodiu a Revolução dos Cravos, em 1974.

Um fato já algo distante, mas que vale a pena relembrar.

Vindo para mais perto, no começo da década de 1970 o então MDB (Movimento Democrático Brasileiro) chegou a pensar em se autodissolver. Logo depois ganhou a eleição de 1974 e abriu o período de declínio do regime militar.

O MDB estava lá quando o povo decidiu que era hora de abrir, de buscar mais democracia, para atacar problemas como a inflação e a péssima distribuição de renda.

Assim como o PSDB pôde pegar a onda da luta contra a hiperinflação e garantir oito anos em Brasília.

Assim como o PT pôde apresentar-se como o mais indicado para promover justiça social e fazer o Brasil voltar a crescer.

O vetor político não deve imaginar que vai surgir do nada, do vácuo, aparecendo domingo pela manhã na porta de casa para tocar a campainha e oferecer um elixir milagroso.

Está cada vez mais difícil fazer o comprador cair nessa.

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