Opinião

A qualidade da água

O Estado de S.Paulo - Editorial
Muita água, mas de qualidade cada vez pior, sobretudo nas proximidades dos grandes centros urbanos, o que coloca em risco o abastecimento futuro das maiores cidades do País. Essa ameaça, embora real, nem sempre é percebida pela população e por autoridades, por causa dos números auspiciosos sobre a extensão dos sistemas públicos de abastecimento de água, que atendem mais de 90% dos domicílios. Os investimentos em saneamento básico aumentaram nos últimos anos, mas, para afastar o risco de desabastecimento, será necessário ampliá-los ainda mais.

Estas são algumas conclusões do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - Informe 2011, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA) com o objetivo de apresentar a situação da água no Brasil sob vários aspectos, como disponibilidade, qualidade e gestão de recursos hídricos. Trata-se da segunda edição desse trabalho, com dados de 2009 (a primeira edição foi lançada no ano passado, com dados de 2008), coletados em 1.747 pontos.

Quando combinados com outro estudo realizado pela ANA - o Atlas Brasil - Abastecimento Urbano de Água, lançado em março último -, os números do Informe 2011 compõem um quadro preocupante da disponibilidade e do uso dos recursos hídricos no País. Cruzando essa disponibilidade com as condições de produção e distribuição de água, o Atlas conclui que, se grandes investimentos não forem feitos nos sistemas em operação e no desenvolvimento de novos, 55% dos municípios poderão enfrentar o problema de escassez de água. A lista inclui as maiores cidades do País, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília. Nelas vivem 125 milhões de pessoas, o que corresponde a mais de 70% da população urbana do País.

De sua parte, o Informe 2011 deixa claro que a qualidade das águas é muito pior nas regiões de grande concentração populacional, justamente as que mais necessidades terão no futuro, o que torna o problema ainda mais dramático.

O Brasil dispõe de 12% da oferta de água do planeta, mas apenas 4% dos recursos hídricos do País são considerados de qualidade ótima, um índice bem inferior aos 10% constatados no informe de conjuntura anterior da ANA. De acordo com o Informe 2011, 71% dos recursos são considerados de boa qualidade, número que parece indicar uma situação confortável para o País. Mas grande parte desses recursos está em regiões pouco ocupadas, sobretudo a Amazônia.

Quanto à água que a população mais utiliza, a qualidade é baixa e vem piorando. Um quarto da água dos rios, lagoas e mananciais do País é de qualidade péssima, ruim ou regular. No estudo anterior da ANA, 20% dos recursos hídricos tiveram essas classificações. Os pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim se encontravam, na maioria, nas proximidades das regiões metropolitanas, e o grande responsável pela degradação dos recursos hídricos nesses pontos é o lançamento de esgoto sem tratamento.

O Rio Tietê é um dos que têm pior classificação no estudo da ANA, o que era previsível. O que surpreende é a inclusão, entre os rios com qualidade de água ruim e péssima, do Iguaçu, que corta o Parque Nacional do Iguaçu, e do Guandu Mirim, no Rio de Janeiro, também situado numa área de conservação, a Área de Proteção Ambiental do Rio Guandu.

A universalização do abastecimento de água por rede pública e, em particular, o atendimento da demanda futura nas grandes cidades estão exigindo a ampliação das unidades de captação e tratamento e, em muitas regiões - inclusive a Grande São Paulo -, a busca de novas fontes de captação que, como mostra a ANA, estão cada vez mais contaminadas.

Por isso, é duplo o desafio do poder público na gestão dos recursos hídricos do País: ampliar os sistemas de coleta e, sobretudo, de tratamento adequado do esgoto urbano, ao mesmo tempo que investe em sistemas de captação, tratamento e distribuição de água.

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