Opinião

O risco dos bancos europeus

O Estado de S.Paulo - Editorial
Qualquer abalo mais sério nas economias europeias mais endividadas porá em grave risco pelo menos 24 bancos - 8 reprovados no teste de estresse divulgado na sexta-feira e 16 aprovados por margem muito estreita. O risco de uma nova quebradeira bancária é um dos terrores dos governos da Europa, já forçados, a partir de 2008, a assumir o controle de várias instituições quando estourou a bolha da especulação imobiliária. O pesadelo voltou quando países da chamada periferia do euro - Grécia, Irlanda e Portugal - chegaram perto de um calote da dívida pública. Os temores aumentaram na semana passada, quando uma crise no governo italiano chamou a atenção para o grave desequilíbrio fiscal do país, sobrecarregado por uma dívida pública próxima de 120% do Produto Interno Bruto (PIB). As preocupações em relação à Itália, terceira maior economia da zona do euro, atenuaram-se nos últimos dias. Mas o cenário geral continuou sombrio, por causa da insegurança europeia e também do impasse em torno da dívida federal americana, praticamente encostada no teto de US$ 14,3 trilhões.

Os governos deverão pressionar os 24 bancos europeus - tanto os reprovados quanto os aprovados com pouquíssima folga - para reforçar sua base de capital e ganhar resistência para enfrentar qualquer novo choque. Considerado suave por alguns críticos, o teste mostrou uma situação pouco melhor que a prevista nos dias anteriores, quando as apostas giravam em torno de 20 reprovações. Mas o cenário divulgado pela Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla corrente em inglês) está longe de ser tranquilizador. Afinal, foram encontrados problemas em mais de um quarto das 91 instituições analisadas.

Na situação atual, a transmissão de risco financeiro pode ocorrer em mais de uma direção - dos Tesouros para os bancos, dos bancos para os Tesouros e também entre os bancos, porque estes dependem uns dos outros no dia a dia. Mais do que nunca, a vigilância das condições de resistência das várias instituições tem importância vital para o sistema bancário e para o conjunto da economia.

Cinco bancos da Espanha, dois da Grécia e um da Áustria foram reprovados e terão de levantar, em conjunto, cerca de 2,5 bilhões para chegar à normalidade, segundo a EBA. Mas os outros 16 também precisarão reforçar seu capital para operar com um grau razoável de segurança. Esse grupo inclui sete espanhóis, dois alemães, dois gregos, dois portugueses, um cipriota, um italiano e um esloveno.

Da parte dos endividados, a melhor notícia veio da Itália, com aprovação, pelo Parlamento, de um plano de ajuste fiscal de 40 bilhões. O objetivo é deixar o orçamento em ordem até 2014. A dívida italiana é alta há muito tempo, mas seus prazos têm sido tradicionalmente confortáveis. O déficit fiscal supera 4% do PIB e está acima do limite do bloco, mas outros Tesouros europeus estão em condições piores. Houve um evidente exagero nas especulações dos últimos dias, mas, no quadro atual, nenhum país é imune a pressões desse tipo. Não há zona segura.

Na Europa, o maior desafio, neste momento, é acalmar os mercados em relação à Grécia e dar às autoridades gregas alguma folga para respirar e pôr em prática as medidas corretivas aprovadas há poucos dias pelo Parlamento. O primeiro pacote de ajuda, aprovado em 2010,está-se esgotando. Um segundo será necessário, mas há desacordo sobre detalhes importantes.

Os governos alemão e francês propõem uma operação de socorro com participação de bancos. Isso envolveria, na linguagem do mercado, um calote seletivo. Dirigentes do FMI e do Banco Central Europeu rejeitam esse caminho e defendem uma ajuda ao Tesouro grego para recomprar uma parte da dívida. Como os títulos estão muito desvalorizados, seria possível, em tese, recomprar papéis com um bom desconto. Enquanto esse debate prossegue, do outro lado do Atlântico o Executivo americano discute com a oposição as condições para uma elevação do teto da dívida. Sem uma rápida solução, um calote poderá ocorrer em agosto. É uma hipótese que assusta, e a maior parte dos observadores aposta numa solução de última hora.

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