Opinião

Mercado de trabalho aquecido

O Estado de S.Paulo - Editorial
Foram expressivos os aumentos salariais reais alcançados em 2010 pelos trabalhadores com carteira assinada, sobretudo os que recebem o piso de suas categorias profissionais e formam a maioria dos empregados do mercado de trabalho formal. Dados mais recentes mostram que, até agora, não há mudanças sensíveis na evolução do emprego no Estado de São Paulo e no País. Em alguns setores e em algumas regiões, registram-se quedas dos índices entre um mês e outro, mas elas ainda são pequenas e não caracterizam uma piora do mercado de trabalho, pois as comparações com os números de igual período de 2010 continuam a mostrar aumento. Isso indica no mínimo a preservação dos ganhos de renda obtidos pelos trabalhadores no ano passado, quando não resulta em ganhos adicionais.

Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que, no ano passado, 93,8% dos pisos salariais definidos em 660 convenções coletivas ou acordos coletivos de trabalho tiveram aumento acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, utilizado nas negociações sindicais; 2,4% das negociações resultaram em correção dos pisos igual ao INPC; e apenas 3,8% dos pisos tiveram correção menor do que a inflação.

Não é apenas a alta incidência de aumento real dos pisos que se destaca no estudo do Dieese. Ele mostra que mais da metade dos pisos salariais teve aumentos reais entre 2% e 6%. Dos 660 pisos definidos nas negociações do ano passado, 87, ou 13,2%, tiveram aumento real, isto é, acima da inflação, de mais de 8%.

O ano passado foi favorável não apenas para os empregados que ganham o piso salarial. Em geral, os trabalhadores das faixas mais altas também tiveram correção substancial de sua remuneração. Em trabalho anterior, o Dieese mostrou que, das 700 categorias profissionais que negociaram salários com os sindicatos patronais ou com as empresas no ano passado, 89% obtiveram aumento real. Apenas 4% não conseguiram pelo menos assegurar a reposição integral da inflação medida pelo INPC.

O índice de aumentos reais foi o maior já registrado pelo Dieese desde 1996, quando iniciou sua pesquisa. Além de apresentarem a maior incidência de ganhos reais, as negociações do ano passado registraram também o maior número de acordos e convenções fechados com aumentos reais superiores a 3%.

Quanto a emprego, dados do Ministério do Trabalho mostram que, de janeiro a abril, foram criados 880,7 mil postos de trabalho com carteira assinada no País. O acumulado de 12 meses até abril é de 2.294.809 novos empregos.

Já a pesquisa do IBGE, que abrange as seis maiores regiões metropolitanas do País, mas não se restringe ao mercado formal, mostrou que a taxa de desocupação em abril foi de 6,4%, a menor para o mês desde 2002 e praticamente igual à de março, de 6,5%, mas 0,9 ponto porcentual menor do que a de abril de 2010.

Quanto aos indicadores de renda, também aferidos pelo IBGE, os dados de abril mostraram leve piora em relação a março (o rendimento médio real habitual dos ocupados caiu 1,8% e a massa de rendimento real efetivo, 1,6%), mas melhora em relação a abril de 2010 (aumentos de 1,8% e de 4,1%, respectivamente). Em resumo, há mais emprego e a renda é mais alta do que no ano passado.

Pelo menos em São Paulo, a melhora se manteve em maio. O nível de emprego na indústria paulista registrou no mês passado aumento de 0,16% em relação a abril, de acordo com dados da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Na comparação com maio de 2010, o aumento foi de 3,26%.

A comparação dos dados dos últimos três meses indica uma tendência de estabilização do emprego industrial em São Paulo. Para os próximos meses, a Fiesp prevê uma situação um pouco mais difícil para a indústria e, consequentemente, para os trabalhadores. Quedas não são esperadas, mas apenas uma acomodação dos números. Se ocorrer, será uma acomodação em níveis ainda bastante confortáveis.

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu