Ramalhete de "causos"


O pirata Bonete

José Ronaldo dos Santos
Os antigos, vez por outra, contavam causos de piratas. Eram coisas medonhas!

Até viravam pesadelos!

De todos eles, um era especialmente cruel. Tinha o nome de Bonete.

Muito já se especulou sobre esse Bonete. Até já ouvi que, numa gruta perto do Morro do Cuscuzeiro, próximo da Picinguaba, ainda tem vestígios de seu bando. Dizem que lá se encontram roupas, ferramentas e outros utensílios. Estão devidamente guardados, principalmente na atualidade, neste tempo em que pouquíssimos se aventuram pelas matas.

Outra pessoa que contou bastante coisa do tal Bonete foi o “seo” Donato, antigo morador da prainha do Bonete. Ele, do jundu onde morava, indicava um lugar do morro que se destacava por ter sete jarobás alinhados. Era lá, assegurava-me, que alguma coisa está enterrada até hoje: “Contavam os antigos, inclusive o vovô Ramiro Barra Seca, que faltava coragem de mexer por lá porque há ossos humanos. E tem alma penada! Por mim, pode ter a riqueza que tiver, mas isso de enfrentar coisa de outro mundo não dá para topar!”.

Quando eu demonstrei maior curiosidade por piratas, o meu parente Bito Cláudio explicou Assim:

- Ah, os piratas!!! Piratas são ladrões que vivem no mar, mas que sempre estão em terra para buscar comida e para enterrar tesouros, coisas que têm valor, mas que fazem peso na embarcação. É dos tempos antigos, mas ainda tem por aí. Há pouco mais de dez anos, quando eu pescava com o meu pai bem depois do Mar Virado, veio um barco estranho em nossa direção. Ficamos com medo porque só tinha gente feia, mal-encarada. Conversaram com o velho numa linguagem que nada entendi. Antes de irem embora, deram algumas moedas para o meu pai e levaram toda a carga de corovina que tinha saído do espinhel. Eram piratas, segundo o papai. Perguntei-lhe que língua era aquela que eles falaram. Logo vi que ele também não entendeu nada. Sorrindo disse que era lin-gua-do. E o peixe? Ele, após ver as moedas, logo viu que os homens precisavam da única coisa que para eles tinha valor naquela canoa: as corovinas. Ainda pescamos alguns micholos e baiacus para não escutar a mamãe arengando. Ah! Mais piratas tivesse para comprar esse peixe mixuruca, essa tal de corovina que os turistas chamam de corvina!

Como eu demonstrasse certa incredulidade, o Bito Cláudio levantou a moeda que trazia pendurada no pescoço e disse:

- Do pagamento dos piratas só restou esta. O finado papai me ordenou carregá-la sempre para ter sorte. Por enquanto não mudou nada; tenho de correr na roça, no mar e ainda caçar de vez em quando.

Em tempo: o meu amigo Vilberto ,que sabe quase nada de quase tudo, afirma que trata-se de Henry Bonett. Foi da boca do Artelino Flor que eu ouvi a informação que agora repasso: ele era escocês; por aqui se alojou por ter enseadas tranquilas, protegidas por natureza. Segundo ele, na terra chamada de Escócia os homens usam saias. Credo! Não sei de onde tirou isso!

Sugestão de leitura: Mundinho, de Ferrucio Verdolin Filho.

Boa leitura!

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