Opinião

As contas externas do primeiro mês de governo

O Estado de S.Paulo - Editorial
É provável que daqui a alguns meses tenhamos que concluir que a herança deixada por Lula à sua sucessora, no plano das finanças públicas, não foi tão preocupante quanto a das contas externas. A divulgação dos dados pelo Banco Central (BC), anteontem, permitiu ver como será difícil o novo governo evitar a deterioração do balanço de pagamentos em razão da política anterior, que deixou "contas a pagar" e se financiou em operações que poderão não estar mais disponíveis, por causa da mudança da conjuntura internacional.

A leitura de apenas alguns dados escolhidos mostra as dificuldades que o governo terá de enfrentar para não criar um problema de insolvência do País. A balança comercial brasileira, que ainda em dezembro colheu um superávit de US$ 5,367 bilhões, deixou janeiro com US$ 424 milhões, graças ao forte recuo das exportações, enquanto as importações continuaram robustas. A alta do preço do petróleo tornará mais caras nossas importações de derivados e poderá piorar a situação da balança comercial.

O déficit de serviços e renda diminuiu um pouco, levando em conta que, em dezembro, foi elevado o pagamento dos juros sobre a dívida. No entanto, essa evolução não se traduziu por uma redução do déficit das transações correntes, que passou de US$ 3,493 bilhões, em dezembro, para US$ 6,409 bilhões, em janeiro, embora o BC mantenha uma estimativa de déficit de US$ 60 bilhões para o exercício de 2011.

Esse déficit terá de ser coberto com o resultado da conta financeira do balanço de pagamentos. O resultado do mês de janeiro poderia ser recebido com satisfação, já que o saldo positivo da conta financeira, que havia sido de US$ 6,3 bilhões, em dezembro, passou para US$ 13,9 bilhões, em janeiro.

Aparentemente, isso sinaliza um aumento da confiança no Brasil por parte dos investidores estrangeiros. No entanto, o que nos parece mais importante é verificar a qualidade dos aportes estrangeiros. Sem dúvida, o que mais interessa ao Brasil são os investimentos diretos que, em dezembro, apresentaram um valor de US$ 13,3 bilhões, mas que caíram para US$ 1,8 bilhão, em janeiro. Em compensação, os investimentos em carteira (ações e títulos de renda fixa), que foram de US$ 649 milhões, em dezembro, subiram para US$ 4,9 bilhões, em janeiro. São papéis muito voláteis, que dependem da política monetária do BC e sobre os quais pagamos um juro muito alto. Falta conhecer a evolução da dívida externa bruta em janeiro para melhor avaliar a situação.

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