Ubatuba em foco

Reisado, cultura e turismo

José Ronaldo dos Santos
No dia 6 de janeiro, os católicos comemoram o Dia dos Santos Reis. Em Ubatuba não é diferente. À noite, conforme a tradição religiosa caiçara, na Igreja Exaltação da Santa Cruz, no centro, aconteceu o encontro dos grupos de Folia de Reis do nosso município. Eu prefiro a denominação dos caiçaras: Reisado.

O Reisado é uma adaptação local da antiga devoção aos visitantes do Oriente que, segundo os escritos do Novo Testamento, foram guiados por uma estrela até a cidade de Belém, onde nasceu o Menino Jesus e foi presenteado com ouro, incenso e mirra. É um simbolismo do reconhecimento da realeza divina daquela criança até por povos distantes.

Repetindo o gesto a cada ano (desde o início do Advento até o dia dos Santos Reis; tornando a cantar, em fevereiro, na Festa das Candeias), os caiçaras demonstravam a sua religiosidade e o reconhecimento da importância do divino no cotidiano, na realidade dura de viver entre a serra e o mar, de onde vem o seu sustento. Desse modo, as ocasiões festivas (devocionais ou não) sempre foram momentos de se fortalecer para continuar buscando o sentido da vida. O ser festeiro é parte da alma caiçara.

Na atualidade, com o desenvolvimento tecnológico a nos encantar, além da criação de novas denominações religiosas a cada dia, as pessoas simples, outrora festivas, vão deixando de participar de eventos que têm muito de positivo, sobretudo capaz de gerar resistência a um processo de massificação onde o privilégio está reservado a poucos e a maioria se destina a ser massa de manobra. O comodismo e o fanatismo –ou o sectarismo- vão tornando o mundo cinzento, sem alegrias. A espontaneidade popular é condenada porque destoa da lógica de dominação. Isso é cíclico; outros momentos com os mesmos objetivos já deixaram suas marcas na história. Porém, há pessoas sábias, capazes de saltarem interesses e interpretações limitadas e/ou limitadoras. Tais pessoas adentram qualquer espaço onde prevalece a autenticidade; valorizam as expressões artísticas genuínas, sobretudo de gente humilde. Assim, o prédio católico, naquele momento das apresentações dos grupos que compareceram, recebeu, além dos devotos, os admiradores da cultura popular. A classificação disso é turismo cultural.

O turismo cultural gera rendas em muitos cantos deste mundo; também pode acontecer por aqui. Vai depender das cabeças que ocupam o departamento de turismo do município. Torço para que, num futuro próximo, o Dia dos Santos Reis seja parte importantíssima do turismo cultural de Ubatuba.

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