Rescaldo

Enfim, a revolução acabou!

Sidney Borges
Tudo acaba. Não sei se isso é bom. Em certos casos é. Como agora. Dilma ganhou. Que governe com sabedoria. E sorte. Poucos seres humanos são alçados a cargos de tanta responsabilidade. Eu que não acredito em sorte desejo a ela sorte, que tenha sucesso. O Brasil precisa. Há hoje dois Brasis, o da propaganda petista e o real. Os dois vão bem, mas o da propaganda vai melhor.

O problema da desigualdade continua. E a tendência é aumentar. O governo Lula inovou quando levou a presença do Estado a rincões nunca d'antes visitados. O "Bolsa-Família" consolidou a imagem do presidente. E deu a ele imensa popularidade. Tão grande que garantiu a sucessão. Mas como eu disse antes, os problemas continuam. A violência está aumentando. O tráfico de drogas também, a expansão do crack é avassaladora. Em Ubatuba há pontos em que é temerário circular. Existe o perigo de ser atacado por um nóia.

Ubatuba, segundo dados do IBGE tem perto 70% da população vinculada ao Bolsa-Família. E mesmo assim desce a escada do IDH. Programas sociais demoram a surtir efeito. A inércia social é grande impedindo a mobilidade. O crédito fácil dá ilusão de mudança de degrau. Compro, logo existo. O buraco é mais embaixo.

Em Cambridge, no ano 2000, eu freqüentava um pub onde as faxineiras do "Lucy Cavendish College" reuniam-se com as amigas da cozinha e tomavam cerveja nos finais de tarde. No mesmo ambiente, em uma das mesas um senhor circunspecto trabalhava em seu laptop. Perguntei a um amigo quem era. Ele disse com pompa e circunstância que se tratava de um membro da família real, respeitado professor da área biológica e duas vezes indicado ao prêmio Nobel.

Waal! No mesmo pub! 

O topo da escala social e humildes trabalhadores convivendo espacialmente. No Brasil coisas parecidas ainda vão acontecer. Mas vai demorar. A sociedade de castas é um fato real, embora escamoteado pelo jeitinho brasileiro, hipócrita e maldoso. Depois de 400 anos de mão de obra escrava o trabalho ainda é visto como coisa de inferiores. Não em todo o país. No Sul e no Sudeste trabalhar é motivo de orgulho, bem como nas capitais nordestinas onde a população luta para melhorar de vida. No entanto, nos rincões interioranos do coronelato, a estrutura social permanece igual à do século XVIII.

Ubatuba é uma mistura dos dois ingredientes.

Por falar de arcadismos tupiniquins convém lembrar que as grandes estruturas governamentais, como é o caso da Educação, acabam criando identidade própria. Tornam-se templos da burocracia, paraíso do corporativismo. Perdem o sentido para o qual foram criadas e passam a existir por inércia. Como justificar alunos de terceiro colegial analfabetos? A finalidade da escola não é ensinar? Para os mais afoitos é fácil a solução, basta colocar a culpa na oposição. Como se nos estados geridos pela situação as coisas fossem diferentes.

Eu não sei o que Dilma vai fazer, nem tenho interesse ou tempo para perder em conjecturas. A grande imprensa faz isso muito bem, basta folhear os jornais de hoje e constatar. Imersa em factóides por ela mesmo criados, vai mal das pernas, nada acrescentando ao panorama visto da ponte.

A população de São Paulo, onde nasci e me criei, acreditava em meritocracia. Ainda acredita. Pensando dessa forma estudamos para ter alguma chance de melhorar de vida. A maioria de nós é filha ou neta de imigrantes que saíram de seus países em busca de oportunidades. O Brasil cresceu em função do trabalho.

Independentemente de governos, se bem que as bases da estabilidade atual foram fincadas no tempo de Itamar Franco.

De tudo o que vi nesse tempo de campanha, não gostei do posicionamento belicoso do presidente Lula, embora saiba que com Lula há que se ter paciência. Petistas de alto calibre afirmam que ele é como a bíblia, todos leêm e cada um dá a sua interpretação, escreveu Josias de Souza em seu blog.

Lula usou e abusou da confontação, separando os brasileiros entre nós e eles e criando um clima de ódio poucas vezes visto. Quem são os nós e os eles? Dilma deve mudar esse discurso, é mais culta, tem mais escolaridade.

E não me venham falar em popularidade, Hitler e Mussolini chegaram a beirar os 100% e deu no que deu.

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Comentários

Saulo Gil disse…
Ao contrário caro Sidney, ela está só começando!!
sidney borges disse…
Começando... Espero que termine...

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