Opinião

Usuário foi ignorado

AE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz desconhecer os pormenores dos negócios bilionários anunciados nos últimos dias e que mudaram a composição acionária das duas maiores operadoras de telefonia do Brasil, a Oi e a Vivo. A despeito da intensa atuação de órgãos ligados ao governo nas negociações e das conversas sobre o assunto que teve com o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates - publicamente admitidas pelo chefe de governo português -, ao qual ofereceu garantias quanto à operação, Lula afirma que não influiu na montagem da nova estrutura societária da Oi. A única coisa que ele diz garantir é que, "enquanto eu for presidente, a empresa (Oi) vai continuar uma empresa nacional", ou "uma empresa brasileira da Silva".

De fato, todo o empenho do governo para assegurar, há menos de dois anos, a também bilionária compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi foi oficialmente justificado pela necessidade de o Brasil ter uma empresa nacional com porte suficiente para enfrentar grandes operadoras internacionais tanto nos serviços domésticos como no mercado externo, especialmente o latino-americano. O interesse do governo no assunto, por razões nunca claramente justificadas, foi tanto que o presidente da República assinou um decreto estabelecendo um novo Plano Geral de Outorgas para o setor de telefonia e instituições federais, como o BNDES e o Banco do Brasil, ofereceram vultosos financiamentos para tornar o negócio viável. Com sua "garantia", Lula quer dizer que esse objetivo "nacional" está sendo preservado, mesmo com a entrada da Portugal Telecom (PT) na Oi.

Mas é uma garantia por tempo limitadíssimo - vale até 31 de dezembro - e, sobretudo, ilusória. Para ter forte presença na Oi, a PT vendeu para a espanhola Telefónica a participação que tinha na Vivo, outra grande operadora de telefonia do País. Mas, com a conclusão das negociações, a PT passou a deter 22,4% da Oi, o que a torna o maior acionista da empresa. Ou seja, é estrangeiro o principal acionista da empresa que, por causa do discurso nacionalista do governo para justificar sua formação, ficou conhecida como a "supertele nacional".

Ainda que fosse justificada e baseada na realidade a garantia do presidente a respeito dos grandes negócios na área de telefonia, ela seria incompleta, pois não trata do que mais deveria preocupar o governo nessa questão: a população, o usuário do sistema nacional de telefonia. Nada foi dito sobre a melhora da qualidade dos serviços, tarifas, expansão da cobertura da internet de banda larga (e com serviços mais rápidos e mais baratos, como os existentes em outros países), redução do número de queixas dos usuários sobre os serviços telefônicos - sobre investimentos, enfim.

Como nada disso foi levado em conta pelo governo durante as negociações para a mudança dos acionistas das principais operadoras do País, o usuário só pode esperar que a Anatel, quando convocada a examinar as alterações no setor, o faça tendo como critérios a qualidade dos serviços, o impacto na concorrência e o interesse do usuário.
Leia mais

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu