Opinião

O mau caminho das safras

Editorial do Estadão
O mundo vai precisar de muito mais alimentos e matérias-primas produzidos no campo nos próximos 10 anos - e o Brasil será o país mais qualificado para atender a essa demanda, se agricultores e criadores conseguirem fazer sua produção chegar aos portos a um custo razoável. A agropecuária brasileira poderá aumentar sua participação no comércio mundial de soja em grão, milho e carnes, além de manter a posição dominante nos mercados de açúcar e café. As projeções aparecem num trabalho publicado pelo Ministério da Agricultura. As perspectivas são auspiciosas, mas o estudo termina com uma descrição pouco animadora das condições de logística.

A produção agropecuária tem crescido muito mais velozmente que os investimentos na infraestrutura de transportes e de armazenagem. Os gastos com transporte aumentaram em média 147% entre 2003 e 2009, segundo levantamento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), divulgado em reportagem do Estado nessa segunda-feira. Os produtores foram capazes, nos últimos 40 anos, de levar a agricultura a regiões novas, tornando produtiva a ampla área do cerrado e implantando lavouras modernas muito longe das áreas tradicionais. Tiveram durante algum tempo incentivo oficial para abrir fronteiras. Também essencial foi o apoio dos institutos de ciência e tecnologia, especialmente da Embrapa. Mas o investimento na ampliação, na modernização e, depois, na conservação da malha de transportes avançou durante alguns anos e perdeu impulso.

O Centro-Oeste produz cerca de 35% da safra nacional de grãos. A maior parte da exportação sai pelos portos do Sul e do Sudeste, porque o acesso aos portos da Região Norte é muito mais difícil. O caminho seria mais curto, mas acaba sendo mais vantajoso enviar a mercadoria aos pontos tradicionais de embarque. Caminhões transportam cerca de 70% da produção de soja de Mato Grosso, a um custo em torno de R$ 230 por tonelada. O custo é menor para os produtores do Sul e do Sudeste - entre R$ 55 e R$ 70, segundo a reportagem. Mesmo esses custos, no entanto, são maiores que os da Argentina, R$ 34,64, e dos Estados Unidos, R$ 31,18. A eficiência dentro das fazendas é das maiores, pelos padrões internacionais, mas boa parte da vantagem competitiva se esvai no transporte - demorado, arriscado, caro e com elevada perda de mercadoria.

Os produtores podem usar boas máquinas, boas sementes e as melhores técnicas de manejo de solo. Formas de produção igualmente modernas foram adotadas na criação de animais. Tudo isso permitiu baratear a produção nacional de alimentos nos últimos 30 anos. O consumidor nacional foi beneficiado e, ao mesmo tempo, os exportadores conseguiram ocupar fatias importantes do mercado internacional. Mas conseguiram tudo isso apesar das más condições da infraestrutura e de outros itens do "custo Brasil".
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