Opinião

EUA em marcha lenta

Editorial do Estadão
A maior e mais avançada economia do mundo, a americana, perdeu impulso e cresceu no segundo trimestre em ritmo equivalente a 2,4% ao ano, segundo a estimativa inicial do governo. O mundo terá de se arranjar ainda por algum tempo sem os mercados do mundo rico, porque a Europa segue em passo ainda mais vagaroso e precisará de mais tempo para voltar à prosperidade. A produção americana já cresceu por quatro trimestres consecutivos e a recessão ficou para trás, mas a recuperação tem perdido vigor. Nos três meses finais de 2009, o PIB aumentou à taxa anualizada de 5%. O ritmo caiu para 3,7% no período de janeiro a março e diminuiu de novo no trimestre seguinte, porque os consumidores, endividados e mostrando pouco otimismo, têm comprado com moderação e as empresas ficaram mais cautelosas na formação de estoques.

Embora a economia não esteja parada, o desemprego continua elevado (9,5%). Este é mais um fator de insegurança para os consumidores. O quadro poderá ficar pior, como advertem alguns analistas, se o governo, pressionado pela crescente dívida pública, elevar os impostos para reduzir o déficit orçamentário.

Mas o Fed provavelmente manterá os juros básicos entre zero e 0,25% ao ano por um tempo considerável. As perspectivas da economia são "extraordinariamente incertas", disse na semana passada o presidente do Fed, Ben Bernanke.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de concluir a revisão anual das condições econômicas dos Estados Unidos. Segundo o relatório, os bancos americanos estão mais fortes do que na crise, mas ainda há riscos no setor financeiro e as instituições precisam de mais capital. Os economistas do Fundo recomendam ao governo um esforço fiscal maior para recompor as contas públicas e a manutenção da política monetária frouxa e estimulantes para facilitar a recuperação da economia. Mas há espaço na política fiscal, admitem, para maiores gastos, se o ritmo dos negócios diminuir muito.

Pelas estimativas do FMI, o déficit federal americano ficará em 11% do PIB neste ano e cairá para 8% no próximo, mas a dívida pública deverá continuar em expansão. O governo já traçou um programa de ajuste para a década, mas terá de seguir uma dura disciplina orçamentária. A curto prazo, o desafio da recuperação econômica se sobrepõe à necessidade do acerto fiscal, mas haverá um preço pelo adiamento das medidas corretivas.

Na Europa, alguns governos já anunciaram medidas para arrumar as contas públicas. O aperto poderá retardar a reativação econômica, mas as políticas frouxas poderiam produzir resultados piores. Os governos dependem dos mercados financeiros para rolar suas dívidas e o financiamento seria mais difícil num ambiente de maior desconfiança.

A economia mundial continua a depender, portanto, principalmente dos grandes emergentes, liderados pela China. O FMI acaba de publicar também o relatório anual sobre a economia chinesa. A previsão de crescimento para este ano continua em torno de 10,5%. Para 2011 espera-se uma expansão pouco menor, mas ainda vigorosa. O impulso será reduzido por causa da retirada de estímulos adotados no início da crise.

A provável manutenção de um firme crescimento é a boa notícia. A China é um dos maiores mercados e neste ano suas importações têm crescido mais rapidamente que as exportações. O Brasil tem sido beneficiado por essa nova tendência.

Mas o jogo pode mudar, adverte o Fundo. Durante a recessão global, o governo chinês estimulou a expansão do mercado interno. No entanto, a moeda chinesa continua desvalorizada - apesar do câmbio mais flexível adotado recentemente - e a exportação pode voltar a ser o polo mais dinâmico da economia.
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