Coluna do Rui Grilo

Educação: Brasil melhora desempenho

Rui Grilo
Quando estamos mergulhados dentro de uma determinada situação é difícil avaliar. Para isso é necessário um certo distanciamento. Assim, a opinião corrente é de que a educação no Brasil vai de mal a pior. Essa não é a opinião do físico alemão Andreas Schleicher, diretor de Programas de Análise e Indicadores em Educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Para ele, não dá para comparar o desempenho entre realidades tão diferentes como Japão, Finlândia e Brasil sem levar em consideração os diferentes contextos. Para ele, , o Brasil está entre os mais bem-sucedidos em melhorar seu desempenho educacional e a igualdade.

Em sua entrevista ao Estadão* ele não explicita as razões dessa avaliação sobre o Brasil, mas destaca que a comparação deve ser entre diferentes tempos da mesma escola e do mesmo país e não com países ou escolas diferentes. E não dá para negar que há um esforço muito grande no sentido de garantir a todos o acesso ao ensino fundamental e médio e, gradativamente ampliar as vagas no ensino superior. Talvez esteja aí a razão de sua avaliação positiva do Brasil.

Para ele, “o preço econômico e social que as sociedades pagam por não educar bem a totalidade de suas crianças é muito mais alto do que seria o investimento na própria educação.” Portanto, não adianta haver excelência para poucos, como aponta o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio - que mostra uma grande disparidade entre o desempenho das escolas públicas e particulares, fruto da qualidade do ensino que é oferecido em cada uma das redes distanciando ainda mais os alunos com a garantia de um futuro bem-sucedido nas universidades dos que engordarão a massa de trabalhadores com escolaridade limitada.

Uma das características dos países mais bem avaliados é que há um bom desempenho de todos e não apenas de um grupo social. Não há a insistência na reprovação e repetição do ano escolar, o que seria um retrocesso, elevando os gastos sem resultados significativos, como comprovam as pesquisas.

Nesses países “ escolhem as pessoas certas para se tornarem professores porque sabem que a qualidade de educação será proporcional à qualidade do corpo docente e porque a escolha errada desses profissionais pode resultar em 40 anos de ensino fraco.”

Na busca da solução para a melhoria do desempenho da rede pública estadual, o governo aposta na padronização ignorando que indivíduos aprendem de maneiras diferentes e que a distribuição de apostilas produzidas para alunos do ensino particular podem não funcionar na rede pública.

Esta prática revela a incompreensão das profundas mudanças que o ensino sofreu e dos novos desafios que tem que enfrentar. O bom desempenho não se consegue pela mera reprodução dos conteúdos, mas como esses conteúdos contribuem para que o aluno descreva, interprete e que lhe dê condições de intervenção na realidade permitindo a transformação, a criação e a reelaboração porque esses alunos de hoje, devido às rápidas transformações, irão se deparar com situações inéditas, com profissões novas que exigem outras habilidades e para as quais ainda não há respostas.

O foco deixa de ser o conteúdo e o currículo para centrar-se na escola e no aluno, nos diferentes estilos e capacidades. Embora não descarte o uso das tecnologias de informação valoriza mais o caráter humano da participação, que acredito aproximar-se de uma visão próxima a de Paulo Freire, para quem a autonomia e o diálogo eram centrais na educação. Quanto maior a autonomia da escola e dos professores, maior a possibilidade de interação entre professores e alunos e maior a possibilidade de detectar problemas e dificuldades e soluções mais adequadas.

Não adianta implantar avaliações nacionais se as informações geradas não se transformarem em ações, principalmente no apoio às escolas que estão em situação mais crítica, colocando-as em contato com os melhores educadores.

O grande objetivo das avaliações nacionais não é definir caminhos de entrada ou saída dos educandos mas identificar problemas, necessidades e responsabilidades. Também contribui para reduzir a diversidade de currículos entre os diferentes grupos socioeconômicos, estabelecendo parâmetros claros e precisos.

As avaliações levam o professor a uma tomada de consciência de suas deficiências e de suas responsabilidades, instigando-o à mudança, à busca de melhores práticas profissionais nas escolas, à adoção de abordagens inovadoras e à expansão do repertório de estratégias pedagógicas para personalizar o ensino para todos os alunos.

Encorajam as escolas a dar respostas positivas e significativas aos problemas locais.

*Fonte: A equação do futuro. O Estado de S. Paulo, 24/07/2010

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