Opinião

O recrudescimento da dengue

Editorial do Estadão
O agravamento da epidemia de dengue em todo o País, previsto por um estudo do Ministério da Saúde divulgado em dezembro de 2009, infelizmente está se confirmando. O estudo alertava as autoridades municipais e estaduais para a necessidade de providências que barrassem a disseminação da doença. Mas as medidas adotadas pelos Estados e municípios parecem não ter surtido efeito. Segundo os infectologistas, o calor acima da média, o acúmulo de lixo e as fortes chuvas de verão favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e que se reproduz em água parada.

Só com o número de casos do primeiro semestre, 2010 já bate o recorde de notificações de dengue. Ao todo, já houve 321 mortes. No mesmo período, foram efetuadas 830 mil notificações - ante 806 mil nos primeiros seis meses de 2008. Até o momento, a situação é crítica, principalmente em dois Estados bastante populosos.

Com 203 mil notificações, o primeiro é Minas Gerais. Em muitas cidades de pequeno porte, os prefeitos chegaram até a oferecer alimentos em troca da limpeza de entulhos onde o Aedes aegypti poderia colocar seus ovos. Com 121 mil notificações e 98 mortes, o segundo é São Paulo, onde, por causa do volume atípico de chuvas nos três primeiros meses do ano, a dengue se alastrou no interior, na Baixada Santista, na região metropolitana e na capital. Barretos e Presidente Prudente, dois municípios importantes, estão em situação de risco. No Guarujá, município que - juntamente com Santos - sedia o maior complexo portuário do País, houve até a necessidade de se levantar tendas nos bairros mais carentes, para o atendimento de pacientes com dengue.

O quadro também é preocupante em Rondônia e no Paraná - Estados em que, segundo as autoridades federais, os dirigentes municipais e estaduais somente teriam começado a se preocupar quando o pior já estava acontecendo. Agora, a atenção dos técnicos do Ministério da Saúde está se voltando para os bairros mais pobres das regiões metropolitanas dos Estados do Nordeste. A região entrou em seu período mais chuvoso, que é o de maior incidência da doença.

Em 2009, o Estado da Bahia registrou 2.400 notificações de dengue por semana e 1 morte a cada três dias. Infectologistas temem que a situação seja agravada em 2010. "Estamos, sem dúvida, num dos piores anos", diz o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanni Coelho.

Depois de ter sido considerada erradicada, a dengue voltou a se espalhar pelo País após seis décadas, nos anos 80. Desde então, as autoridades federais fazem campanhas de educação, esclarecimento e conscientização, mostrando para a população a importância de proteger as caixas d" água, evitar o acúmulo excessivo de lixo e não permitir que a água empoce em pneus, vasos e garrafas.

Em seguida, a União passou a financiar atividades de vigilância sanitária e muitos Estados e municípios passaram a investir na capacitação de agentes de saúde, a fim de que identificassem as chamadas "áreas de infestação", onde se localizam os criadouros do mosquito transmissor da dengue. Posteriormente, com base em informações enviadas pelas Secretarias Municipais e Estaduais da Saúde, o Ministério da Saúde elaborou um mapa nacional dos focos da doença, repassou verbas, padronizou as ações de vigilância e colocou técnicos à disposição de governadores e prefeitos.
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