Fut

Transformação nada empolgante

Sócrates
O futebol brasileiro começou a crescer a partir da presença maciça de negros em suas equipes e da diminuição das rivalidades regionais, que tanto prejudicaram a Seleção Brasileira nas primeiras Copas do Mundo. Com o aparecimento de grandes jogadores como Pelé e Garrincha, os esquemas defensivos que tanto sucesso fizeram até ali passaram a ser insuficientes para obstar esses talentosos jogadores. E mesmo aumentando o número de defensores pouco se conseguia diante desses excepcionais criadores. É que os espaços eram imensos e impedir atletas como eles de criar era uma façanha praticamente impossível.

Esses espaços eram assim gigantescos porque a preparação física desses jogadores ainda era tratada como uma atividade menos importante, menor, que a parte técnica ou tática. E era lógico que isso fosse visto assim. A ciência esportiva, então, dava apenas os primeiros passos. Somente nos anos 50 é que foi criada a principal organização de fomento à ciência esportiva: o American College, exatamente no período em que apareciam esses jogadores especiais. Como eles apresentavam também qualidades físicas natas, que os colocavam em vantagem contra seus marcadores, era natural que as dificuldades em marcá-los fossem grandes. Temos aqui um período em que, apesar de todos os estudos e a implantação de novidades táticas, a qualidade individual podia superar todos os esforços coletivos de uma equipe. A vitória do gênio contra a organização.

A Copa do México de 1970 desencadearia todas as transformações que ocorreriam no futebol. Jogar em condições tão difíceis, como na altitude de mais de 2 mil metros, provocou uma verdadeira caçada ao que de mais novo havia nos estudos na área esportiva. Os esforços científicos de dois anos antes, motivados pelas Olimpíadas realizadas na mesma cidade e nas mesmas condições, serviram como base das ações de planejamento físico das equipes mais importantes. Ainda que fossem preocupações incipientes, comparando-se com os dias de hoje. Mesmo assim percebemos que a maior parte das delegações teve grandes dificuldades em lidar com aquelas condições.

A partir daí, no entanto, o fato é que o jogo de futebol passou a ser então uma associação equânime de técnica e física e, posteriormente, a equação passou a pender para a última. Nos dias de hoje, um jogador de futebol atinge uma quilometragem duas vezes superior à de 1970, o que permite maior mobilidade do atleta, que passou a ocupar muito mais espaços no gramado de jogo. Com isso, o futebol começou a apresentar características muito diferentes: mais contato físico, mais infrações, mais interrupções e menos técnica. E foi o aspecto técnico que mais perdeu, pois, apesar de ainda podermos ver jogadores de grande talento, suas ações são muito mais limitadas que há 30 anos. Os jogos de futebol tornaram-se mais previsíveis e repetitivos, quando o surgimento de um gol, o mais das vezes, é quase um acidente de percurso.
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Nota do Editor - Sócrates é como Fred, (comentarista contratado do Ubatuba Víbora) raciocina em bloco, conceitua nas entrelinhas, aprofunda detalhes. Antigamente boleiros batiam na gorduchinha e corriam pra entornar uma loira gelada. Nestes tempos de Dunga os caras só fazem correr pra lá e pra cá. Um horror! (Sidney Borges)

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