Opinião

O risco da bomba do terror

Editorial do Estadão
Só não se pode dizer que a questão das sanções ao Irã roubou a cena da Cúpula de Segurança Nuclear, que na segunda e terça-feira reuniu em Washington dirigentes e outros representantes de 47 países, porque o próprio promotor do evento, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se valeu dele para insistir na "rápida e agressiva" adoção, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma nova bateria de penalidades contra o governo iraniano por suas recorrentes transgressões do Tratado de Não-Proliferação (TNP). Mas Obama foi mais bem-sucedido na conferência em si ? o maior encontro de líderes estrangeiros em solo americano desde aquele que criou a ONU, em 1945 ? do que nas suas exortações sobre o Irã.

O principal obstáculo às sanções, como se sabe, é a China. Um dos 5 membros do Conselho de Segurança com poder de veto, o país compra de Teerã 12% dos seus suprimentos de petróleo e gás ? e não está especialmente ansioso em pavimentar o caminho para a renovada afirmação da liderança mundial dos Estados Unidos. À margem da cúpula, Obama se reuniu com o presidente Hu Jintao, e os porta-vozes da Casa Branca se apressaram a espalhar que a China havia enfim anunciado o seu apoio ao pleito americano. Aparentemente, a versão não se sustém. A chancelaria chinesa logo fez saber que Pequim continua a preferir "o diálogo e o entendimento às sanções e pressões". É também a posição do Brasil e da Turquia, membros temporários do Conselho.

Mas, se continua incerto o desfecho da demanda americana ? cujo principal objetivo é o de confrontar o Irã com uma crescente coesão da comunidade internacional para que cumpra as suas obrigações como signatário do TNP ?, o resultado da cúpula propriamente dita representou um progresso notável. Obama fez da não-proliferação e do controle dos arsenais atômicos o carro-chefe da sua política externa. Há um ano, em Praga, numa fala que contribuiu para ser contemplado ? prematuramente ? com o Prêmio Nobel da Paz, pregou o desarmamento nuclear, embora, realista, tenha admitido que não viverá para ver essa meta alcançada.

A sua prioridade imediata, em todo caso, era neutralizar agora o risco de uma organização terrorista como a Al-Qaeda ter acesso à bomba ou aos materiais (urânio altamente enriquecido ou plutônio) que lhe permitiriam montá-la. Na abertura da cúpula, cuja realização ele havia anunciado em Praga, Obama declarou essa eventualidade "a maior ameaça singular à segurança dos Estados Unidos, no curto, médio e longo prazos". É uma hipótese improvável, porém não impossível. Existem, disseminados por meia centena de países, cerca de 1.600 toneladas de urânio fortemente enriquecido e 500 toneladas de plutônio, o suficiente para a produção de umas 100 mil bombas. Bastam 50 quilos de urânio para fazer uma réplica daquelas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Em tese, o presidente Lula tem razão quando diz que "o modo mais eficaz de reduzir os riscos de que agentes não-estatais utilizem explosivos nucleares é a eliminação total e irreversível de todos os arsenais". Na prática, equivale a dizer que a melhor solução para o contrabando de armas é a eliminação da indústria bélica. Com os pés no chão, Obama conseguiu que 47 países assumissem o compromisso voluntário de participar de um plano internacional para a salvaguarda de materiais atômicos em um prazo de 4 anos. O plano deverá desembocar numa série de medidas relacionadas com o armazenamento, uso, transporte e contabilização de substâncias radioativas, especialmente urânio e plutônio.
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