Em foco

O fracasso de Bento XVI

Paulo Moreira Leite (original aqui)
Empossado no trono de Pedro com a missão de restaurar o prestígio perdido da Igreja Católica, Bento XVI encontra-se numa situação semelhante a de Richard Nixon no escândalo Watergate.

Todo mundo sabe que o Papa já sabia dos casos de pedofilia ocorridos em várias partes do mundo. Todo mundo sabe que há registros desse conhecimento e do esforço do Papa e da cúpula do Vaticano para acobertar fatos gravíssimos em vez de entregar padres e bispos envolvidos em crimes contra crianças para a Justiça.

O problema é este. Os fiéis tem o direito de se perguntar se Bento XVI cumpriu com suas obrigações em relação a tradição da Igreja. É uma questão interna do mundo católico.

Mas o cidadão comum questiona no plano da vida comum. Nenhuma pessoa tem o direito de furtar nem de cometer violencias apenas porque veste batina e faz pregações aos domingos, certo?

Richard Nixon preferiu renunciar ao cargo em vez de entregar as gravações de conversas ocorridas no Salão Oval da Casa Branca, que demonstravam que ele tinha todo conhecimento sobre Watergate. Foi uma forma de escapar de uma ação na Justiça, que ficaria inevitável quando se demonstrasse seu esforço para atrapalhar as investigaçoes.

Duvido que Bento XVI fará uma coisa dessas. O principal motivo é que o Vaticano está longe de uma democracia ocidental. É uma monarquia fiel às origens absolutistas, sem divisão de poderes, sem direito de voto para o cidadão comum e sem liberdade. O Papa não tem a menor obrigação de prestar contas de seus atos. Seu cargo é vitalício.

Acompanhei a visita de Bento XVI ao país. Apesar do esforço das autoridades para cortejá-lo e agradar ao eleitorado católico, a passagem do Papa ficou muito além do que ocorreu nas viagens de João Paulo II. Não atraiu multidões nem conseguiu colocar temas importantes na agenda política do país, o que não impediu que, mais tarde, o Vaticano arrastasse o governo Lula para a assinatura de um protocolo com concessões que eram oferecidas a nenhuma outra religião, o que gerou revolta no Congresso.

Bento XVI foi empossado no lugar de João Paulo II com a promessa de que iria restaurar o prestígio perdido da Igreja. Fez o discurso da tradição, do retorno aos velhos tempos, do conservadorismo e dos compromissos com a manutenção da antiga ordem. Já era possível prever que iria dar errado. O que nem todo mundo imaginava era um desastre tão rápido.

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Comentários

Anônimo disse…
A Igreja dos proximos cem anos será a Igreja planejada pelo cardeal Ratzinger,isso é irreversivel.
As ideias e ações do Papa tem o apoio total dos movimentos catolicos e das centenas de milhares de novas comunidades de leigos,alem de grandes setores das ordens religiosas.
Os bispos e cardeais mais relevantes hoje na Igreja são os seguidores das ideias do Ratzinger,dificil imaginar que o proximo Papa não seja um deles,homens como o Schonborn ou Angelo Scola.
Para os catolicos o papado atual já é um sucesso ,por tudo que foi feito e pelo que ele representa.

Vivemos em um mundo onde ocorre grandes conflitos geracionais a cada vinte anos,revoluções culturais a cada 10 e mudanças politicas a cada cinco.
É inútil correr atras de prestigio e contentamento momentaneo de opiniao publica.
As organizações religiosas que correram atras de todo tipo de novidade,abrindo mão de seus principios e aderindo a assembleismos,hoje se encontram no caos e na irrelevancia(Ex:episcopal americana).
A Igreja não abrirá mão de seus principios para agradar ninguem.
Anônimo disse…
Francamente os comentarios do Paulo deixam muito a desejar.
Não é obrigação do Papa colocar temas importantes na agenda politica do pais,alias isto é algo que nem os politicos conseguem fazer no Brasil...
Quem quer uma Igreja não centralizada,com "divisão de poderes",direito de voto,que monte uma...
O Ratzinger já rejeitou no passado os que queriam transformar a Igreja em uma mistura de ong,sindicato e partido politico,ele não vai mudar de posição agora.
Para quem espera por uma renuncia do Papa,recomendo a compra de um sofa bem confortavel...

E sobre a atual crise,ela vai ser superada,mas ainda vai demorar um pouco,pois é necessario que aconteça no mundo todo o processo que ocorreu nos EUA.
Mas assim como ocorreu nos Eua,o resultado final será bom e com uma Igreja fortalecida.

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