Deu em O Globo

Não existem respostas prontas

Especialista da ONU conta que cientistas ainda tentam descobrir como lidar com a ameaça vulcânica à aviação

Marília Martins. Correspondente em NOVA YORK
O francês Raymond Benjamin não hesitaria em pegar um avião para a Europa. Secretário geral da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao), agência da ONU responsável pelas normas internacionais de tráfego aéreo, ele se encontrou ontem com o secretário-geral Ban Ki-moon para fazer um balanço dos problemas no tráfego aéreo causados pela erupção do vulcão islandês e afirmou ao GLOBO que é seguro viajar.

ENTREVISTA
Raymond Benjamin

O GLOBO: O senhor considera seguro viajar de avião cinco dias depois da erupção do vulcão na Islândia, com a nuvem de cinzas que ainda circula no ar? O senhor viajaria de avião entre EUA e Europa?

RAYMOND BENJAMIN: Sim. Os cientistas da Icao já consideram que existem condições seguras de decolagem, voo e pouso, e foi por isto que a União Europeia decidiu abrir seu espaço aéreo a partir de hoje. Você me pergunta se eu pegaria um avião? Claro que sim. Se os cientistas dizem que é seguro, não tenho razão para duvidar.

Ainda há uma discordância entre os aeroportos quanto à segurança dos voos...

BENJAMIN: Veja bem, a Icao não é responsável pelo espaço aéreo. Cada país deve decidir sobre o seu espaço aéreo, cada país deve decidir se há segurança para permitir voos sobre seu território ou não. Isto não cabe à Icao.

Mas os voos são internacionais. Quem garante a segurança do espaço aéreo internacional?

BENJAMIN: Existem três partes envolvidas neste debate: há os governos dos vários países, há a indústria aeronáutica e há a agência internacional da ONU. A Icao cuida de monitorar as condições atmosféricas. Temos nove pontos internacionais de coleta de dados, pontos que nos informam sobre pressão, ventos, e também sobre a quantidade de cinzas. Nós, então, avaliamos os dados coletados com um grupo de cientistas que trabalha conosco e levamos esta informação aos diversos aeroportos e às autoridades nacionais para que tomem as suas decisões. Os aviões precisam ter toda a sua rota livre e segura para decolar de um aeroporto e aterrissar noutro.

E, diante do caos aéreo que se instalou nas rotas internacionais nos últimos cinco dias, será que não podemos dizer que houve uma falta de coordenação por parte dos responsáveis pela Icao?

BENJAMIN: Nós temos que coletar informações e repassá-las. E isto nós fizemos todo o tempo. Estamos diante de um problema muito novo, uma situação que ninguém tem respostas sobre como enfrentar. Se a indústria considera segura, mas as autoridades nacionais não concordam, cabe aos governantes decidirem e não aos agentes da Icao. As rotas internacionais, de acordo com os nossos cientistas, estão agora seguras. Mas você vê que nem a União Europeia soube dar uma resposta uniforme, porque a situação de um aeroporto no sul da Itália não é a mesma de outro no norte da França. Esta é uma situação nova, que mudou de hora para outra, e que exige um trabalho de cooperação entre vários níveis.

Os cientistas da Icao têm um número padrão de concentração de cinzas na atmosfera para determinar a segurança para os voos? Muitos cientistas não sabem dizer qual seria a quantidade de concentração segura para permitir voos e nem sabem dizer qual a quantidade de cinzas que um avião pode enfrentar.

BENJAMIN: Nós também não sabemos. Não existe uma concentração que sirva de padrão de segurança. Nós estamos trabalhando para conseguir chegar a isto. Não sabemos qual a concentração de cinzas que pode afetar seriamente os motores de um avião. E isto depende também do tamanho do avião, de sua autonomia de voo, de sua estrutura, da quantidade de combustível e de carga, da altitude em que voa. As variáveis são muitas. Não podemos inventar padrões. Os cientistas devem chegar a um acordo. Estamos reunindo especialistas de diferentes aéreas com representantes da indústria e autoridades governamentais. Estamos formando um grupo de trabalho para obter estas respostas. E este trabalho não vai ser feito num prazo curto porque temos que coletar muitos dados, fazer muitas análises. Como eu disse, não existem respostas prontas.

Mas se não existe um padrão de segurança para concentração de cinzas na atmosfera, como se pode dizer que é seguro voar?

BENJAMIN: Porque se há cinzas, não voamos. É simples. A rota precisa estar livre de cinzas para autorizarmos o voo.

Existe altitude segura?

BENJAMIN: O problema não é a altitude e sim as condições atmosféricas. Em qualquer altitude há riscos, dependendo das condições atmosféricas.

Há relatos de que um avião militar teve problemas durante o vôo. É verdade?

BENJAMIN: Sim, é verdade. Mas não posso dar mais detalhes. E este foi também um caso que está sendo levado em consideração. Todos nós estamos trabalhando tendo em vista a segurança dos passageiros. Isto interessa a todos nós: às autoridades nacionais, à indústria aérea, aos organismos internacionais.

Houve também relatos de que aviões vindos da África estavam tendo restrições de voo que não se justificavam. É verdade?

BENJAMIN: Houve restrições de voos para aviões de carga africanos, mas as restrições não se deveram aos problemas atmosféricos e sim a razões de segurança da aterrissagem. É só o que eu sei. Seria o caso de perguntar aos aeroportos a que se destinavam os voos quais os motivos para as restrições de voo. Nós podemos ajudar esses países a melhorar a segurança de seus voos e já a oferecemos. É o que podemos fazer.

Quando a Icao pretende publicar estes padrões internacionais de segurança atmosférica?

BENJAMIN: Não temos um prazo. Temos um longo trabalho a fazer. (Do AeroClipping)

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